Nunca fui um entusiasta das opiniões de Marina Costa Lobo (MCL), enquanto politóloga, muito embora também nunca lhe tenha detetado posições com que não estivesse particularmente em desacordo. Mas o texto por ela assinado no «Público» de anteontem, intitulado “As diretas não aumentam a qualidade da democracia” defende exatamente o que penso de tal método como norma partidária instituída para a escolha dos seus líderes. Muito embora tenha a noção de ser matéria polémica dentro do meu Partido, identifico-me bem mais com as práticas seguidas pelos congéneres mais à esquerda em que os programas decorrem de discussões prévias entre as várias propostas a nível das secções locais, depois votadas em Congresso, onde também devem ser eleitos os dirigentes dos órgãos principais.
Se no PS as diretas foram introduzidas pelo líder, que mais se identificou com a nefasta Terceira Via (António Guterres) essa «novidade» está de acordo com o que a globalidade das propostas dessa moda de má memória trouxe à generalidade dos Partidos socialistas e sociais-democratas. Como reconhece MCL no seu texto “trata-se de uma americanização da política que mina os partidos por dentro, enfraquecendo-os”. Em vez de abordagem séria e ideologicamente coerente da Visão de futuro, que deve estar permanentemente a ser aferida, corresponde a uma cedência à política-espetáculo como se o importante fosse quem dá a cara pela organização em vez de lhe sobrepor a seriedade e adequabilidade das propostas a emitir … e implementar.
E acrescenta MCL: “Essa mediatização excessiva desvirtua o debate político em Portugal, que fica subordinado à imagem dos candidatos e do soundbite, em detrimento de um debate mais aprofundado.”
Numa altura em que as esquerdas europeias perderam grande parte da capacidade de atração junto da sua massa social de apoio por terem prescindido das definições ideológicas, é no regresso a estas, convenientemente adaptadas aos tempos de hoje, que podem recuperar a importância perdida. O que pressupõe muito debate interno, coincidente com procurarem amiúde o contacto com os potenciais eleitores (para se fazerem por eles ouvir, mas também auscultando-lhes as aspirações) de forma a reencontrar a empatia de outros tempos entre quem não vive da exploração alheia e quem politicamente os deve representar.
Defender que a solução se limitará a dar voz - de x em x anos - aos militantes através do voto e, quiçá, aos que se afirmam simpatizantes! - é um logro, que não percebo se consciente, se ainda eivado de perceções blairistas, que tiveram tão maus resultados um pouco por todo o continente levando ao desaparecimento efetivo ou à grupusculização, de alguns dos que tinham sido partidos de poder nos respetivos países.
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