quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Os amigos que definem um carácter (ou a falta dele)

Um sábio provérbio popular afiança que “diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és”.
Convenhamos que para Marcelo Rebelo de Sousa o que daí se ajuíza não é particularmente confortável: depois de ver um dos seus melhores amigos, Ricardo Salgado, metido nos apuros que sabemos, é a vez do seu dileto padre, responsável pelas paróquias de Oeiras e de Cascais, ver-se procurado pela Judiciária, depois de terem desaparecido valiosas peças de arte sacra. António Teixeira, assim se chama o religioso em causa até tivera o privilégio de contar com Marcelo a prefaciar-lhe o livro, que lançara meses atrás.
Perante o que da sua personalidade diariamente aquilatamos não espanta que Marcelo não tenha arriscado enviar a revisão da lei de financiamento dos partidos para o Tribunal Constitucional, pois sabia quão facilmente ali seria validada. Assim, e utilizando um tipo de expediente que não fica bem a quem deveria ter a irrepreensível ética de quem é chamado às suas altas funções, limitou-se a vetar o diploma, reenviando-o para  a Assembleia da República, e agindo em conformidade com a onda de demagogia que os jornais e as televisões se encarregaram de difundir nos últimos dias.
Porque sabe que os principais prejudicados com a escusa a essa aprovação são o PCP (que continuará a ter dificuldades em contabilizar todos os donativos auferidos por exemplo com a Festa do Avante) e o Partido Socialista (que não possui os financiadores, com que PSD e CDS contam como paga do trabalho para que estão mandatados pelo patronato e pela Igreja), Marcelo torna-se cúmplice da tentativa de manter a capacidade financeira dos partidos à esquerda limitada, ciente de ela não existir à direita.
A estratégia de Marcelo é óbvia: já que não consegue derrotar a maioria parlamentar nas sondagens e no sucesso dos indicadores económicos, intervêm onde lhe é possível: dificultando-lhes o mais possível o acesso a recursos para executarem a sua atividade política.
Sabe, também, que um dos seus ódiozinhos de estimação - Mário Centeno - está cada vez mais liberto da teia, que chegara a lançar-lhe, quando o chamara a Belém e tivera o «prestável» Lobo Xavier a mostrar-lhe sms, que nunca deveriam ter saído do alcance de quem os tinha recebido ou enviado. Nesse sentido, para além de, como presidente do Eurogrupo, Centeno olhar para Marcelo de cima para baixo, pode começar bem o ano com a acrescida almofada financeira de 350 milhões de euros não utilizados como receitas extraordinárias no exercício orçamental de 2017. Se as perspetivas para 2018 são boas, ainda prometem revelar-se melhores. Como dizia o blogue O Jumento em dia recente: É bom que o aparelho digestivo do Presidente esteja a funcionar bem porque a dieta que vai ter de suportar em 2018 não é das de mais fácil digestão. 


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