Edmundo Pedro mereceu todos os elogios de que foi credor por ocasião da sua morte, tanta foi a coragem em tudo quanto fez para derrubar a ditadura salazarista-marcelista, tanta a determinação em se silenciar perante os torturadores e tanta a tendência para se fazer mais homem de ação do que do pensamento. Associamo-lo a um tipo de carácter, que se tornou raro, porque capaz de defender a murro as convicções mesmo quando os adversários eram mais numerosos ou mais fortes. E convenhamos que, apesar de politicamente incorreto, o debate de ideias bem merece de vez em quando a viril demonstração de uns bons sopapos nos néscios das direitas.
E, no entanto, ele que foi filho de um herói comunista, viria a dizer o indefensável a propósito das ideias que acabou por renegar. O que nele me desagradou foi a condenação do estalinismo entendendo-o como pior ainda do que o nazismo.
Muito embora, nos seus opostos ideológicos, ambos os regimes tenham enveredado por perturbadoras semelhanças no silenciamento dos que se lhes opunham, nunca se lhes poderão invocar comparações ou identificações. Porque se um pretendia instituir por mil anos a supremacia de uma raça sobre as demais, variação fanatizada da continuidade da existência de explorados e exploradores, o outro julgava possível alcançar a igualdade coletiva mesmo à custa dos gulags. Se poderia haver alguma similitude nos meios, os fins eram diametralmente opostos. Ora esses ideais de justiça na distribuição de rendimentos continuam atuais e prosseguirão como projeto utópico a concretizar quando o decadente capitalismo receber a definitiva extrema-unção. Poderemos a posteriori reconhecer que a instituição do comunismo nas experiências em que o quiseram implementar à força era uma impossibilidade científica tendo em conta as realidades sociais, económicas, financeiras e, sobretudo, do estado evolutivo dos meios de produção em causa. Outro será o tempo e outras serão as circunstâncias em que a antevisão marxista se poderá cumprir.
Talvez Edmundo Pedro não pudesse ter a sagacidade para o intuir, mas ao emitir juízos emocionais de cariz anticomunista sem recorrer à sua habitual racionalidade, não se livrou de se fazer porta-voz de um perfeito disparate, Que foi repetido até à náusea pelas televisões, que lhe noticiaram o passamento e quiseram apresentar essa tese como um axioma incontestável. Olha a admiração! O jeito que lhes fez!
Sem comentários:
Enviar um comentário