Para quem gosta de política os próximos tempos prometem ser interessantes para as bandas do PSD. Tivesse sido Santana Lopes o vencedor e deparar-nos-íamos com o nível rasteirinho a que nos habituaram Passos & Cª nestes últimos anos, não enjeitando usar a mentira, a manipulação grosseira e a exploração populista de preconceitos atávicos do eleitorado para porem em causa o rumo definido pela governação de António Costa.
Rui Rio é manifestamente diferente de Santana Lopes. Podemos não gostar do seu projeto para o país - que coincide grosso modo com o patronato, que lhe dará todas as condições possíveis para que seja bem sucedido! - mas tem-no, sabendo muito bem o que quer. Por isso mesmo é mais perigoso, porque se Santana obrigaria a usar os nem sempre eficazes antídotos que o veneno populista exige, Rio retoma a estratégia cavaquista de reduzir o peso do Estado na economia, pondo as empresas a pagar menos impostos, limitando os direitos de quem trabalha e cortando nas pensões de reforma para obviar ao peso da segurança Social nos custos orçamentais. E nós bem sabemos como muitos portugueses dos estratos mais desfavorecidos gostam de apoiar quem contra eles governaria, conquanto repliquem a ideia austera e prepotente, que herdaram geneticamente do salazarismo.
Provavelmente ver-se-á um grupo parlamentar a agir de modo diferente do que tem sido a sua conduta até aqui, com um senador tipo Marques Guedes ou Fernando Negrão a dar a aparência de querer discutir as questões substantivas do país em vez de explorar apenas os casos mediáticos de lana caprina. Nesse sentido será provável que, mesmo contando com as peixeiradas mal-educadas de Cristas, os debates ganhem outro tipo de dignidade na Assembleia da República.
O interesse não se quedará por aí, porque não sendo Rui Rio um político vocacionado para consensos - ao contrário de António Costa que, logo após a vitória contra Seguro, logo soube trazer para o seu lado muitos dos que haviam estado a militar no campo contrário - encontrará por certo uma oposição cerrada por quem o pretende condenar a um caminho pedregoso, facilitador do regresso à ribalta de quantos se escusaram agora de vir a jogo. Ora Rio já avisou o que se prepara para fazer: o tom ameaçador com que disse aos jornalistas para estarem atentos ao que iria concretizar internamente logo após ganhar as eleições pressupõe que quantos alinharam com Santana Lopes não terão vida fácil nos próximos tempos. Daí que, de fora, seja curioso olharmos para a contínua contagem das espingardas, que se irão fazendo de um e do outro lado, manietando o PSD nas suas lutas fratricidas em vez de o orientar para os problemas do país.
Promete ser calmo o futuro do governo socialista a médio prazo, mesmo para além das eleições de 2019. Porque, mesmo que Rio neutralize as ações projetadas pelos opositores na sombra, poderá encetar novo ciclo político com um grupo parlamentar mais consonante com a sua visão do que deve ser o PSD do que o atual. Mas a dimensão da derrota anunciada poderá precipitar o declínio irreversível de um partido que, dentro do seu campo ideológico, nunca conseguiu ultrapassar a aparência de nem ser carne, nem peixe.
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