Se a política politiqueira não nos deveria interessar tanto quanto a do aprofundado debate de ideias e projetos de futuro, o facto de estarmos dominados pela lógica mediática, que lhes faz sobrepor os líderes em importância, obriga-nos, necessariamente a tê-los em conta. Daí o interesse, que valerá a pena dedicar ao que ocorrerá no PSD nos próximos dois anos com Rui Rio e a sua equipa a quererem-no fazer regressar à matriz anterior à tomada do partido por Passos Coelho e seus cortesãos. Em vez da obsessão em apoderar-se do pote para distribuir tudo quanto nele possa ter valor por amigos e conhecidos - razão que explica a progressiva deriva populista dos seus mais recentes líderes parlamentares! - pode-se esperar da nova direção laranja a intenção consistente de valorizar a estratégia consentânea com a ideologia, que lhe subjaz: reduzir o peso do Estado na economia (mesmo que à custa das pensões dos reformados, por exemplo), fazendo do equilíbrio das contas públicas e da redução do défice o seu referente cardeal e reduzindo os impostos para os patrões.
Em vez de uma direita abertamente demagógica pode-se prever o advento da que assumirá claramente a sua carga ideológica. Mesmo que não enjeite o regresso aos discursos falaciosos e manipuladores, que perduraram durante muito tempo na nossa imprensa - do tipo «os empresários gerem melhor do que os gestores públicos», «os serviços prestados pela iniciativa privada são mais baratos e de melhor qualidade do que os providenciados pelo Estado», etc. - e poderão ser recuperados por conta da tese de existir no povo a curta memória.
Para Rio a tarefa tende a ser hercúlea porque nada faz prever que, nestes dois anos que faltam para as próximas legislativas, o governo socialista perca o fôlego, que lhe garantiu tão animadores resultados. Mas, tal qual Churchill alertara um seu correligionário, os piores inimigos da nova liderança laranja não se situam nas bancadas parlamentares das esquerdas: será nos deputados e autarcas, que estiveram com Passos Coelho e, agora com Santana Lopes, que os golpes baixos se anunciam. Daí a resistência de Hugo Soares em deixar a liderança do grupo parlamentar ou a autoproclamada recusa de Luís Montenegro em se comprometer com a nova direção. Sem esquecer os sempre influentes Miguel Relvas ou Dias Loureiro que, para os seus negócios, carecerão de um regresso tão imediato quanto possível das suas marionetes aos cargos onde se se tomam as decisões relevantes para que continuem a enriquecer sem pinga de escrúpulo.
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