quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Plangências e confirmações

Pelo artigo de opinião, que Manuel Carvalho assina no «Público» de hoje - «Um Partido com medo de existir» - é possível conjeturar a mágoa, que vai em certos setores da direita portuguesa.
Recordemos que, tão-só António Costa conseguiu formar Governo com a atual maioria parlamentar e logo assistimos a inflamados textos do jornalista em causa a desconsidera-lo com a indignação de um qualquer Maomé a quem lhe fosse apresentado um prato de toucinho.
Alguém que até me merecera atenção pelos textos sobre a I Guerra Mundial vivida pelos portugueses em África, conseguia ser de um inopinado sectarismo contra as esquerdas, justificativo de, desde então, só lhe ir percorrendo os textos  na diagonal, e muito rapidamente.
Daí o justificado aprazimento de, hoje, me ter dado ao trabalho de o ler de fio a pavio. Porque, relativamente à pugna entre Rio e Santana ele escreve que nunca como hoje o PSD esteve tão longe da realidade e das expectativas do país como está hoje. A modorra da campanha em curso é a consequência desse fracasso.” E, mais adiante , conclui: quer Santana, quer Rui Rio, têm o que merecem: o desinteresse das pessoas cansadas de táticas políticas, do mais do mesmo, do “são todos iguais”.
É caso para considerar que, se até nem entre os seus, os dois «Murphys» convencem, que dirá a grande generalidade do eleitorado, que lhes dedica a apropriada indiferença?
Mas a designação de «Murphy» (a sugerir o cenário de catástrofe enunciado na lei com o mesmo nome) surge no texto de Francisco Louçã, que refere algo com que estou cada vez mais de acordo: “esta forma de eleições, como é desejada pela doutrina das primárias, é uma forma de subverter os partidos, de destruir a sua vida interna evitando as formas de deliberação coletiva e personalizando o poder, de os submeter aos ditames da oligarquia mediática.
A demonstração ainda não há muito tempo teve uma exemplificação convincente com as primárias do Partido Socialista francês, praticamente destroçado com a vitória de Emmanuel Macron.
As primárias fazem com que o enfoque fique nas pessoas - nos candidatos a líderes! - em vez dos programas e projetos, que deverão ser objeto da escolha dos militantes dos partidos. Daí que nunca houvesse simpatizado com essa ideia, por muito que tenha sido através dela, que António Costa afastou António José Seguro da liderança do Partido. Mas, convirá recordar, que a ideia de primárias foi deste último, pois Costa limitou-se a aceitar as condições propostas por quem nelas julgava vir a ter fácil vantagem.
Dentro do Partido Socialista ainda há um grupo ultraminoritário, que defende esse tipo de eleição. As circunstâncias e os sucessivos exemplos andam a comprovar o total desconchavo em que radica.

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