sábado, 27 de janeiro de 2018

A cogestão alemã atirada às malvas

Imaginem que são donos de uma empresa alemã onde já conseguiram evitar a possibilidade de integrarem representantes dos trabalhadores na Administração, porque tendo três mil empregados já a dividiram em duas, supostamente autónomas uma da outra, mas na realidade só em aparência.
Imaginem que, numa delas, um dos líderes sindicais mostra-se particularmente avesso a qualquer suborno e insiste em que se cumpra a lei. Muito simples: arranja-se uma bela moçoila que, tão só contratada, se começa a fazer ao gabiru até ao momento crucial em que grita por socorro e o acusa de assédio sexual, criando as condições para que ele seja despedido com justa causa. Em tr~es tempos acabam-se as reivindicações...
Imaginação fértil? Nem por isso. Estes exemplos fazem parte das propostas apresentadas em cursos organizados por advogados alemães e ministrados a patrões decididos a contornar as imposições legais sobre o papel dos comités sindicais na gestão das empresas e a livrarem-se dos mais ativos defensores dos interesses de quem trabalha.
Durante anos foi-nos vendida a ideia de que, por toda a Alemanha, os patrões mostravam-se bastante dialogantes com quem contratavam, contando com as suas opiniões para melhor rentabilizarem as suas empresas. A própria Merkel não se poupava a elogios sobre o modelo de cogestão alemão.
Os tempos, entretanto, mudaram, a concorrência pela conquista de quotas do mercado global acentuou-se e os patrões alemães decidiram-se a virar costas à suposta cultura dialogante com os sindicatos. Para nem lhes passarem cavaco mudam as sedes sociais das empresas para aos países vizinhos, particularmente para a Holanda, a fim de não se verem obrigados a respeitar a legislação que os forçaria a portar-se de outro modo.
Este novo contexto é bem revelador do que se perfila nesta fase final do sistema capitalista: uma progressiva agudização nas diferenças de pontos de vista entre os patrões e os seus assalariados, com estes a perderem quaisquer ilusões quanto à bondade dos plutocratas, que os exploram.
A luta de classes atiça-se, tende para os confrontos nas ruas e nos locais de trabalho. Com as batalhas a penderem, ora para uns, ora para outros. Até tender para quem mais força e determinação mostrar. Que sejam os explorados a prevalecer sobre os exploradores é o veredicto de Marx. E eu aposto que assim será...

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