Leitor quotidiano do «Público» desde o primeiro número, tornei-me seu assinante, quando me reformei dada a frequência com que visito familiares noutros países europeus. Essa condição permite-me, mesmo que à distância, acompanhar os acontecimentos da nossa realidade política, complementados pelos programas televisivos igualmente acessíveis na net.
Não sou, porém, um leitor satisfeito. Se nos tempos de direção de Vicente Jorge Silva ou no curto período da liderança de Nicolau Santos, ainda vá que não vá, assim todas as outras fases, sobretudo as conduzidas por José Manuel Fernandes e por David Dinis, levam-me a questionar-me amiúde sobre se devo continuar a financiar um tipo de jornalismo cuja deontologia é continuamente enviesada pela intenção de beneficiar os partidos mais à direita. Da última vez que decidi renovar a assinatura ainda ponderei seriamente nas vantagens poucas e nas muitas desvantagens de manter tal financiamento. Acabando, ainda por mais um ano, a priorizar as primeiras.
Nesta fase mais recente o diretor David Dinis não se limitou a vir comandar os jornalistas da casa. No projeto trouxe consigo alguns cúmplices do teapartidizado «Observador» a quem atribuiu as responsabilidades de diretores adjuntos. Todos eles autores de prosas insossas ou tendenciosas, que passei a «ler» na diagonal, confirmando o quão desinteressantes sempre se revelam.
Mas se quem é de direita enuncia os argumentos com alguma honestidade intelectual podemos respeitar-lhe o esforço e entender onde pretende chegar por muito que com ele não concordemos. Pior se afigura, quando à falta de honestidade intelectual se soma um comportamento crapuloso. E esse foi o assumido por um desses subdiretores, um tal Diogo Queiroz de Andrade, que se comportou como um BUFO no que isso tinha de pior no tempo da ditadura fascista. Apesar de saber que os dois gestores da página de facebook «Os Truques da Imprensa Portuguesa» pretendiam conservar o anonimato, decidiu identifica-los numa das edições do jornal, violando o direito de ambos manterem a intenção de darem relevância aos conteúdos e nenhuma a quem os escreve ou seleciona.
De facto, que importa a identidade dos dois provedores se nos importa exclusivamente a desmistificação das «fake news» disseminadas com ínvios propósitos nos jornais e nas televisões? Que interesse tem em se chamarem Pedro ou João, e não Joaquim ou José?.
O tal Diogo não se ficou por aí, decidindo-se a denunciar aquilo que designou por «factos» que mais não foram do que deturpações das biografias dos dois visados.
Que pretendia ele? Seguramente a intimidação suficiente para que esse esforço de denúncia da má qualidade da nossa imprensa não prosseguisse. Enganou-se porém: se julgava calar duas vozes incómodas, acabou por apanhar como ricochete a indignação de milhares de leitores das redes sociais, que cuidaram de denunciar a canalhice. E hoje, mais do que nunca, o tal Diogo pode estar certo de que, sendo lido por uma parcela provavelmente pouco significativa dos que compram a edição do «Público» em papel ou são assinantes da sua versão digital, multiplicam-se por muitas vezes mais os leitores decididos a acompanhar diariamente os posts da referida página do Facebook. Em comparação com esta última, os leitores desse Diogo não lhe evitam a sensação de se sentir a tagarelar na Travessa do Fala Só.
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