Se dermos trato à cabeça para situarmos em Portugal um político com tão escassas virtudes e tão grandes defeitos quanto Donald Trump só podemos citar Cavaco Silva. Embora com características diferentes em muitos aspetos há uma em que ambos se têm mostrado ímpares irmãos: no elevado conceito, que alimentam de si mesmos. O algarvio espantou todos quantos lhe ouviram a improbabilidade de se encontrar alguém mais «honesto» do que ele, apesar de ser pública a vantajosa ligação com os criadores do universo BPN. O trapaceiro americano continua a julgar-se o mais esperto habitante de um planeta, que não hesita em sujeitar a tratos de polé. Agora há outro fator a denotar as semelhanças entre ambos: a forma como tratam os seus mais próximos colaboradores.
Voltemos, então, a setembro de 1995, quando Cavaco Silva se encarregou de enterrar politicamente o seu sucessor designado á frente do PSD, Fernando Nogueira, a quem sabotou ativamente a estratégia, que o levaria a ter uma derrota histórica face a António Guterres. Se o antigo advogado matosinhense julgava ter um amigo de irrepreensível lealdade no primeiro-ministro de que fora esforçado ajudante em três governos, a súbita falta de tapete debaixo dos pés, tê-lo-á confrontado com a sua verdadeira natureza. Por muito que continuasse no futuro a enganar muita gente - obrigando-nos a suportá-lo durante dez anos em Belém! - Cavaco mostrara nesse episódio quem estava verdadeiramente na sua exclusiva preocupação: o próprio umbigo.
O atual procurador-geral norte-americano, Jeff Sessions, está a colher uma lição semelhante. Enquanto senador do Alabama, foi o primeiro político de renome a apoiar Trump na intenção de chegar à Casa Branca. O que a ninguém espantou dadas as credenciais racistas, sentidas na pele por quem a tendo negra se via por ele tratado de «boy», como acontecia há dois séculos pelos antepassados nas plantações de algodão dos seus patrões esclavagistas. Só que, se ambicionava a candidatura enquanto vice-presidente, Sessions viu Pence ultrapassá-lo, ficando remetido para cargo importante na estrutura da Administração, mas menor do que alimentara intimamente.
No entretanto não só se viu impossibilitado de aliviar o nó górdio, que as investigações oficiais estão a apertar em torno do pescoço de Trump a propósito das equívocas influências putinianas no resultado eleitoral de novembro, como é publicamente destratado por quem o nomeara na expetativa de lhe servir de biombo a qualquer acusação.
Se Sessions representava o que de pior poderíamos suspeitar no ideário de um político norte-americano, Trump consegue superá-lo ao demonstrar tanta vontade em o empurrar borda fora e substitui-lo por quem ainda se ilude a imaginar, que possa livrá-lo da provável impugnação. A palavra para designar um tal comportamento para com um amigo não é bonita de aqui aplicar, porque sujeita a censório e prolongado pi. A mesma, afinal, que a associação de ideias nos traz inevitavelmente, quando nos lembramos do tal Aníbal...
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