Há muito que tenho a noção de, a existirem alienígenas entre nós, serem os japoneses os candidatos mais prováveis para como tal virem a ser reconhecidos. Nos contactos com os povos daquela região, quase todos me pareceram bem humanos nos defeitos e virtudes, por muito que se afastassem do nosso modelo caucasiano. Os japoneses, pelo contrário, sempre os senti à parte, não por ter sido por eles destratado - pelo contrário, vi-me prodigalizado com inesperadas mostras de gentileza! - mas por nunca ter sentido a empatia de elos comuns, que estabelecessem uma verdadeira ponte no nosso diálogo.
A comunicação mais complicada aconteceu-me na Ilha de Okonawa onde, apesar - ou se calhar por causa! - da base norte-americana, as autoridades não sabiam (ou fingiam não saber) uma simples palavra em inglês. Isso significou uma reunião divertida com os seus representantes a analisarem os certificados e outros documentos do navio em que estava, questionando-nos ou comentando o que iam achando em japonês, e o nosso lado a procurar responder-lhes em inglês.
À distância arrependo-me de não ter adotado o português para tal «diálogo de surdos». É que terei testemunhado, sem de tal suspeitar, o exemplo prático da afirmação nacionalista nipónica, apesar da sua condição de protetorado norte-americano numa área geográfica, onde os inimigos espreitam por todo o lado.
Com os russos disputam as ilhas Curilhas, Os chineses têm-nos como um dos maiores obstáculos para o controlo mais facilitados dos mares do Pacífico Ocidental e não esquecem o massacre de Nanquim. Os coreanos detestam-nos por causa do meio século em que se viram por eles ocupados, colonizados.
Até Trump chegar à Casa Branca os governos japoneses confiavam no guarda-costas imperialista, por muito que evoluísse a ameaça nuclear de Pyongyang. Mas como acreditar num «aliado» tão instável como o caprichoso presidente norte-americano?
A tentação é grande para que a Constituição seja revista no sentido de lhe extirpar o primado pacifista imposto pelos ocupantes logo após a derrota militar na Segunda Guerra e possibilitar o forte investimento na criação de forças armadas dissuasoras de eventuais tentações alheias. Foi essa a razão porque Shinzo Abe, atual primeiro-ministro, foi eleito com os dois terços dos votos necessários para mudar a Lei Fundamental do país sem recorrer a qualquer aliança com outras forças políticas. Mas há quem veja esse passo em frente como o retorno ao militarismo das primeiras décadas do século passado, que tão graves consequências teve para o conjunto da nação nipónica.
Face à intenção do poder em dissociar-se de Washington e criar as condições para responder por si mesmo aos previsíveis perigos, há a oposição a reclamar quanto isso pode vir a significar o retorno ao abismo sentido em 1945, quando a humilhação da derrota poupou o arquipélago a uma devastação ainda maior destrutiva. Nos próximos meses valerá a pena ir acompanhando como evoluirá essa tentação nacionalista num Japão com razões para se sentir acossado.
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