quarta-feira, 12 de julho de 2017

Não é todos os dias que me ponho aqui a elogiar Marcelo

Não é frequente dar a mão à palmatória, sobretudo, quando se trata de prestar justiça a gente com quem antipatizo pelas posições ideológicas, contrárias às que defendo. Mas, em vésperas de somar mais um aniversário à conta, que já se vai alongando significativamente, deu-me para usar de particular complacência e aqui assumir elogios quer a Marcelo Rebelo de Sousa, quer a Mário Vargas Llosa. Como se verá adiante, a recuperação deste último não me impede de pôr outro a pagar as favas...
No primeiro caso eu insinuara a possibilidade de um dos generais demissionários deste fim-de-semana estar sintonizado com o Presidente, que o nomeara em março de 2016 como seu elemento de confiança no Conselho Superior da Defesa. Alguns «jornalistas» já  relinchavam de prazer perante a possibilidade de verem sentados na mesma mesa o referido general e aquele de quem ele dissera pior que Maomé do toucinho na sua carta de solicitação de passagem à reserva. A leitura, que então fiz, foi a de Antunes Calçada se sentir com as costas suficientemente quentes para assumir uma posição que, mais do que estritamente militar, assumia uma intenção claramente política.
Hoje soube-se que Marcelo Rebelo de Sousa exonerou quem antes nomeara, deixando-o isolado no azedume de quem abandona a carreira militar sem glória  nem honra.
Quanto a Vargas Llosa sempre me posicionei do lado de Garcia Marquez no célebre litígio, que os transformou de amigos muito próximos em inimigos fidalgais. Ora, foi para explorar esse lado mais coscuvilheiro do caso, que um jornalista terá tentado pressionar o peruano a dar a sua versão dos acontecimentos de 1976, data da referida rutura.
Mostrando uma elevação, que não era por certo a do entrevistador, Llosa relatou como conhecera Garcia Marquez, de como lhe admirara «Ninguém Escreve ao Coronel» e, sobretudo, «Cem Anos de Solidão», alimentara com ele uma caudalosa correspondência epistolar e como  até o convidara, a ele e à esposa Mercedes, a serem padrinhos de um dos seus filhos.
Sim, mas a rutura?, pressionava o «jornalista». Llosa escusou-se a responder-lhe, alegando tratar-se de assuntos sem interesse público.
Este bom exemplo deveria alertar o invejoso Lobo Antunes que, instado a falar de José Saramago, tem dito coisas execráveis, ditadas pelo despeito de vê-lo consagrado com o Nobel, que aspirara conquistar para si. Porque tenho pelo autor do «Memorial do Convento» uma admiração irredutível, não só pelo inquestionável talento literário, mas pela personalidade reconhecidamente generosa, ganhei um ódiozinho de estimação por um escrevinhador, que começou por entusiasmar-me bastante com «Memória de Elefante»,  mas me foi gradualmente desagradando em consonância com o vil feitio, que foi revelando.
A atitude inteligente de Llosa é capaz de me convencer a retomar os seus romances, até por sempre neles ter encontrado razões de agrado. Ao ressentido luso já há muito mudei os muitos romances por ele assinados para as filas traseiras das estantes da minha biblioteca. Desculpo Llosa, não tenho nenhuma pachorra para Lobo Antunes...

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