Após semanas e semanas de contínuas deceções as direitas começam a ganhar expetativas quanto a uma súbita viragem no clima político do país. O 17 de junho de 2017 será duradouramente recordado como o dia do incêndio de Pedrógão Grande, e é encarado como tendo o potencial da queda da ponte de Entre-os-Rios em março de 2001, que terá suscitado a o princípio do fim do governo de António Guterres.
O roubo de material de guerra num paiol de Tancos veio atear ainda mais o fogo traduzido pelos insistentes pedidos para que ministros sejam demitidos. A mais ameaçada de tal desfecho é Constança Urbano de Sousa, cuja cabeça Ricardo Costa pede na coluna semanal no Expresso. E Assunção Cristas vem lestamente zurzir nas contradições entre a secretaria-geral do Ministério da Administração Interna e a Proteção Civil criticando as contradições de tais serviços tutelados pela ministra.
Importa, porém, clarifica-lo: quem lidera essa secretaria-geral no ministério em causa? O secretário-geral é Carlos Palma e o adjunto é Francisco Gomes, ambos nomeados para tais cargos pelo governo anterior. Vale a pena ainda lembrar que esse adjunto, responsável pelo polémico relatório do seu organismo, foi para ele indigitado pelo CDS.
Nestas circunstâncias podemo-nos perguntar se, com tais colaboradores diretos, Constança Urbano de Sousa tem visto o seu trabalho sucessivamente sabotado? É que sabemos bem como as direitas são useiras e vezeiras em nomear altos dirigentes do Estado, quando estão para ser corridas do governo na expetativa de ver esses peões tudo fazerem para que lhes venha a ser devolvido o «pote» tão brevemente quanto possível.
Outro dos aspetos, que tem sido interessante constatar, é a tentativa de responsabilizar António Costa pelo deficiente SIRESP, quando se sabe ter sido lançado o concurso para o adjudicar ainda no governo de Durão Barroso, concluindo-se a adjudicação no de Santana Lopes. Importa ainda referir que esse sistema de comunicações teve um concurso à medida da Sociedade Lusa de Negócios e do seu parceiro Motorola, graças ao prazo de 52 dias para formalização da proposta.
Empresas especializadas nesse tipo de sistemas - entre as quais a Nokia, a Siemens ou a EADS - ainda tentaram forçar o governo a cumprir o habitual prazo de 90 dias, mas Dias Loureiro cuidou que os governos em causa rejeitassem tal possibilidade, impedindo assim que houvesse mais do que uma alternativa a ser «escolhida».
Exige-se que, tão só as direitas persistam nas acusações ao atual governo, sejam rapidamente confrontadas com as suas importantes responsabilidades na matéria.
Uma informação igualmente interessante trazida pela edição do Expresso deste sábado é dada pela jornalista Ângela Silva, normalmente tida como muito bem informada dentro dos ambientes da direita em que se enquadra ideologicamente. Segundo o semanário o círculo mais próximo de Marcelo Rebelo de Sousa anda exultante com a possibilidade de uma viragem no apoio a António Costa por parte dos potenciais eleitores, porque sente justificado temor face à possibilidade de, no seu segundo mandato, o atual inquilino de Belém limitar-se ao papel de corta-fitas de um governo com folgada maioria absoluta. E que esta vai-se tornando plausível até o FMI ajuda a credibilizá-la, com as previsões de crescimento sustentável e de diminuição da taxa do desemprego nos próximos anos. A tal Economia, que tende a constituir a ferramenta analítica para cada eleitor decidir o seu voto, corre em desfavor destas direitas. E o mais certo é que, esgotado o tema dos fogos de verão, Passos e Assunção Cristas mereçam o regresso à irrelevância, agora questionada por um momento mais difícil a atual governação.
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