Na próxima semana - precisamente de hoje a oito dias - comemoraremos o 88º aniversário de Zeca Afonso. Muitos de nós, fá-lo-emos em encontros de amigos com as canções a serem cantadas pelos que têm mais jeito nas cantorias. E uma delas, «Os Vampiros», terá sempre presença obrigatória em tais ocasiões. Mas ela justifica-se, igualmente, a propósito do que têm sido estes últimos dias na comunicação social e no discurso político dos partidos das direitas. Porque os vampiros não são apenas os que comem tudo e não deixam nada como na canção do Zeca. São também os monstros que, desde o romance de Bram Stocker, ganharam espaço no cinema e assombraram plateias com os pescoços tenros de vítimas capitosas. Olhando para vidas palpitantes, querem-nas sangrar até as definhar.
A nossa Democracia melhorou enormemente de qualidade no último ano e meio com os portugueses a contarem com um governo e uma maioria parlamentar, que colocam a melhoria da sua qualidade de vida como seus objetivos prioritários. Tanto basta para que os vampiros os tomem como sua ementa gourmet. Se há ameaça de fogo e o sangue pulsa de medo nas veias, aí estão os repórteres das televisões a sugar-lhes as expressões de sofrimento, cientes de, em cada uma delas, suscitarem a oportunidade de opinadores encontrarem matéria para proclamarem a falência do Estado, que é para eles a do governo atual.
Os mortos de Pedrógão ainda estão por ver concluídos o nojo do seu luto e já se arranjam vedetas mediáticas, que inventam vítimas inexistentes ou se põem a exigir responsabilidades a quem nunca as enjeitou.
Há eleições à vista e votos por conquistar e eis outros chupistas com capas laranjas de autarcas ou mal as disfarçando na de chefes de bombeiros, a quererem defenestrar pescoços a propósito de meios insuficientes, que manifestamente não faltam, mas estão incapazes de operar, como é o caso de aviões impossibilitados de romperem os véus opacos dos fumos.
E que dizer do novel líder parlamentar com tanta gula no olhar que, num breve ultimato, deu provas da sua notória inépcia? Ou da senhora que assinou a resolução de um banco enquanto estava de férias e agora peleja por valores a que a sabemos completamente alheia? E o que pensar do irmão do primeiro-ministro - mas verdadeiro caim como se o despeito fraternal lhe prevalecesse sobre os afetos! - que nada faz para aliviar a redação de tanta demonstração de aviltantes violações deontológicas nos seus noticiários?
Nestas semanas de sucessivas aflições é a escuridão das cinzas, que dá azo ao voo dos vampiros. Mas sabemos como eles costumam morrer: basta um raio de luz e eles transformam-se em pó. E, como os resultados da governação continuarão a irradiar o seu brilho, adivinha-se-lhes um fim incontornável. A menos que abandonem o espaço mediático como o mesmo líder parlamentar laranja, com o rabo entre as pernas, acaba de fazer.
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