domingo, 23 de julho de 2017

As perigosas aproximações entre os extremos ideológicos

Uma das evidências mais óbvias do que tem ocorrido em torno da candidatura de um simpatizante fascista à Câmara de Loures é a tentação da direita laranja em testar a recetividade dos eleitores nacionais a um tipo de discurso politicamente incorreto, mas com apoiantes garantidos nalguns estratos sociais. Tal como nas eleições de 2015 recorreu a um marketeiro brasileiro para utilizar estratégias indignas, mas com resultados quase vitoriosos, o PSD anda a ensaiar novas táticas passíveis de infletirem a tendência sugerida por todas as sondagens.
Que esse discurso consegue garantir simpatias constato-o com pena nalguns dos meus amigos do facebook, que o subscrevem com entusiasmo apesar de se considerarem de esquerda. Como se viu em França, com a passagem de muitos eleitores do Partido Comunista para a Frente Nacional, consegue ser muito ténue a linha de separação entre os valores radicais das esquerdas e das direitas. Não gostaria de o reconhecer, mas os factos vão-me confrontando com a conclusão da proximidade perigosa entre os extremos ideológicos.
Os estudos entretanto invocados por quem rejeita liminarmente as atoardas do referido candidato demonstram nele imperar a lógica das fake news. Não é verdade que a maioria dos ciganos viva à conta do RSI, nem usufruem de direitos negados a outros requerentes, que não os pertencentes à sua etnia. Há, igualmente, a comprovação da relação causa-efeito entre a atribuição desses apoios e a progressiva integração dessa comunidade nos valores e comportamentos da sociedade em que se vão diluindo.
O que espanta nos amigos subitamente afeiçoados a esse tipo de fascismo larvar é a sua distração do que mais os deveria indignar: os esbulhos que os antigos Donos Disto Tudo fizeram, com rombos significativos nas nossas carteiras, sem que a justiça pareça interessada em responsabilizá-los por tais atos. Não é preciso ler Sun Tzu para considerar que nunca deveríamos desfocalizar-nos dos inimigos principais, quando nos tentam atirar para combates secundários. É que perdendo-nos nessas tricas irrelevantes ficamos bem mais frágeis para nos empenharmos a sério nas lutas principais.
O que a direita laranja ensaia com este candidato é lançar areia para os olhos, suscitando injustificada repulsa por quem até é mais humilhado e ofendido do que os demais explorados pelo sistema económico que continuamos a suportar.
Ser inteligente nesta altura equivale a não perdermos o rumo aos nossos objetivos principais - construir uma sociedade mais justa, capaz de aumentar a riqueza nacional e distribui-la mais equitativamente! - para nos deixarmos iludir por raivosos lobos escondidos por baixo de peles de carneiro. 

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