Por muito que as circunstâncias me vão deixando apartado da vida política mais do que gostaria - a distância priva-me de minudências, que incrementariam a fina aferição de muitos sinais, que vão chegando sobretudo pela net e pelos jornais! - há linhas de força a definirem-se e a consolidarem-se num futuro mais ou menos próximo. Mesmo havendo gente a viver numa espécie de realidade virtual feita de cenários e personagens nada consonantes com a realidade.
Ontem, por exemplo, sabia estar a decorrer o debate sobre o Estado da Nação e, no intervalo dos afazeres, cliquei na Antena 1 para ouvir o que se estava a passar em direto. Dou então com Raul Vaz, que sei desde sempre eivado dos preconceitos da direita mais conservadora, a elogiar a intervenção de Passos Coelho e a dar de António Costa uma ideia de desgaste. Mais à noite, quando tive tempo para ver em diferido o essencial do debate, perguntei-me o que estaria a sentir o opinador em causa sabendo-se que boa parte do discurso do seu adorado líder, era plagiado de um post de Miguel Poiares Maduro? Terá sentido a noção do ridículo por tecer loas a quem, nem para dizer as esgotadas fórmulas do mofo argumentário da sua área política, consegue criar um discurso verdadeiramente seu?
O debate foi o que esperava: desmentindo qualquer veleidade de se viver uma crise política, António Costa manifestou a convicção e determinação do costume para responder aos interlocutores dos vários partidos, conciliador com os da esquerda, denotando a vontade de continuar a com eles contar para a transformação do país, esmagador com os da direita: fosse o grosseiro Montenegro, fosse a farsante Cristas, levaram pela medida grossa saídos do Plenário a lamberem as feridas. Muito embora ainda houvesse quem os conseguisse superar no grau zero da decência: Telmo Correia confirmou ser um biltre capaz de suscitar vómitos a quem até conta com estômagos rijos.
Falta de sentido de Estado e de respeito a quem deveria merecer o mínimo de cortesia, se sobrasse algum pingo de inspiração democrática naquelas cabeças, é a conclusão que se retira ao assistir ao triste espetáculo dado pelas direitas na ocasião.
Compreende-se que as sondagens apontem para uma evolução significativa da decadência das direitas e a uma consolidação dos votos nos partidos da maioria parlamentar. É que uns procuram vigarizar a realidade a ver se ela melhor se ajusta aos seus interesses, enquanto no lado contrário habita uma maioria séria e competente, capaz de devolver o país ao que ele tem de melhor nas qualidades e competências.
Se Almada Negreiros aqui aterrasse numa viagem pelo futuro compreenderia facilmente que o veredicto de terem os compatriotas todos os defeitos imagináveis, só lhes faltando as qualidades, aplicar-se-ia que nem uma luva aos da área política a que sempre esteve ligado. As tais qualidades que lhes faltariam estão cada vez mais evidentes em muitos dos que, no governo, no parlamento, nas autarquias e no dia-a-dia das escolas, empresas, hospitais e outros espaços de afirmação das instituições do Estado dão a cara por novas políticas passíveis de encaminharem o país para o futuro que, quase todos, almejam.
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