Foi muito oportuna a alteração promovida pela Proteção Civil quanto à comunicação diária sobre o estado dos fogos por todo o país. A centralização da informação pela sede da instituição, limitando os relatos dos chefes dos bombeiros a nível local - embora condenada por quem os estava perversamente a utilizar como arma de arremesso ao governo! - priva uns quantos caciques locais do PSD de exagerarem na dimensão dos problemas e assim arrebanharem mais uns votos de quem os possa não ver com bons olhos para as próximas autárquicas.
Não ignoramos como funciona esse caciquismo: os arrivistas, que ambicionam protagonismo local optam por chefiar os bombeiros, as misericórdias ou os clubes, servindo-se desses pequenos poderes para alcançarem o pretendido. Daí que recorram a todas as habilidades para ganharem protagonismo e silenciarem os argumentos dos opositores.
A nova orientação comunicacional fez, pois, todo o sentido e poderia até servir de exemplo para outro patamar mais importante, que é o da necessária resposta do governo às mentiras das direitas. Peguemos num exemplo concreto: quando Cristas falseou a verdade e deu o ministro dos Negócios Estrangeiros como tendo faltado a cinco de sete reuniões com os seus congéneres europeus, uma nota oficial pretendeu esclarecer que essa ausência verificara-se em três das oito reuniões, e que, mesmo nessas, fora representado pela secretária de Estado ou pelo embaixador em Bruxelas. Mas que impacto teve tal documento escrito para servir de informação às pouco simpáticas televisões em comparação com o que significaria alguém com peso político vir desmascarar as fake news da líder populista?
O governo de Passos Coelho fracassou totalmente, quando nomeou Pedro Lomba como seu porta-voz para conferências de imprensa e briefings com jornalistas, porque, logo às primeiras ocasiões, ele meteu os pés pelas mãos e passou à clandestinidade devido à sua incompetência. Mas não quer dizer que o modelo, replicado da Casa Branca, não faça todo o sentido: permitiria ao governo marcar posição mais visível contra todas as atoardas sobre ele disseminadas pelas oposições de direita e pelos meios de (des)informação. Teria de ser alguém com a capacidade negocial, a importância política de um Pedro Nuno Santos e a verve de um João Galamba. Mas, se cada provocação tivesse resposta a dia e hora certa, com direito e perguntas, mesmo que incómodas, os telejornais não encontrariam tanta facilidade em preencherem longos minutos com os ataques à governação e menos às do governo.
É que, como se constata nos programas com opinadores quase todos críticos da atual formula governativa, mantém-se uma incapacidade preocupante em comunicar as posições, que retirariam argumentos a quem se esforça por convencer os eleitores da existência de «desnorte» e outras falácias, correspondentes a um silêncio, que se não for ocupado com palavras próprias acaba por ser ocupado pelas dos que não enjeitam a oportunidade de dele se servirem para as suas mil vezes repetidas inverdades.
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