Há tanta coisa má na União Europeia que, amiúde, justifica-se questionarmo-nos se ela terá algum conserto. Começando por ser eurocético antes de Mário Soares nos ter a ela vinculado, acabei por me render quando constatei a rapidez com que, graças aos apoios generosamente prodigalizados durante o cavaquismo (um logro só mascarado pelos rios de dinheiro então atribuídos para encherem os bolsos das suas clientelas), havia uma aparência de aproximação aos níveis de vida europeus.
Nos anos mais recentes, sobretudo quando se destacaram Schäuble e os seus cortesãos como sádicos apostados em infernizarem a vida dos portugueses, retomei o pendor eurodescrente. Não chegando ainda ao nível dos comunistas, mas já sem os frívolos entusiasmos de Rui Tavares ou Francisco Assis.
Iludi-me uns tempos com a possibilidade de ver os socialistas reconquistarem a perdida importância política dos anos finais do século passado. Mas a experiência portuguesa não dá sinais de ver-se replicada no espaço europeu. Predominam os que se revelaram imperdoáveis traidores, apossados das lideranças para melhor destruir as esperanças mais igualitárias. Se Corbyn surgiu como outra demonstração da melhor estratégia a adotar para pôr cobro ao esgotado receituário neoliberal, abundam os Vernizelos, Renzis, ou Djesselbloems, que grupusculizaram os seus partidos na Grécia, na França ou na Holanda.
Sanchez, aqui ao lado, abre novas expetativas, mas conseguirão a Península Ibérica e o dissociado Reino Unido impor a correção de um rumo há muito perdido?
Por agora vamos assistindo à deriva fascizante da Polónia, sem que Bruxelas reaja com o vigor expetável para quem se diz tão respeitador dos princípios fundamentais de uma democracia. Alemães vão sendo aprisionados na Turquia pelos mais fúteis motivos e não se constata mais do que o encolher de ombros de quem se julga de mãos atadas para tomar medidas concretas de acosso da ditadura de Erdogan. E que dizer do que se passa na Hungria, onde Orban silencia as vozes dissonantes, procurem elas manifestar-se nos jornais, nas artes ou, até mesmo, no espaço público?
Seria necessário que a União se tornasse politicamente mais progressista para deixar de se cingir à lógica mais ultra economicista, ademais segundo os preceitos de gurus desacreditados: os que já viram falhados os efeitos dos seus axiomas fundamentais - a superioridade da liberdade dos mercados na criação da riqueza, a excelência dos gestores privados sobre os do setor público, a redução deste último à sua mínima expressão, etc. - mas continuam a perorar dos seus púlpitos como se continuassem prenhes de razão.
Por tudo isto mantenho-me moderadamente eurocético. Sem ainda apostar nas vantagens de implodir os edifícios de Bruxelas, Frankfurt ou Estrasburgo onde se acoitam os burocratas (ou burrocratas?) para recriar a ideia a partir de um novo princípio, mas não descartando a possibilidade de tal se vir a revelar inevitável…
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