sábado, 7 de novembro de 2020

Se fosse só o trumpismo, que perdurasse!

 


A derrota de Donald Trump - que vi anunciada em primeira mão pelas quatro e qualquer coisa quando a CNN, continuamente ligada nos últimos dias lhe deu o devido destaque nas suas Breaking News!-, abriu o ensejo para as prometidas comemorações. Não porque algo de muito substancial vá mudar no comportamento intrinsecamente imperialista da Casa Branca e do Pentágono, mas porque será sempre mais agradável ter como interlocutor um presidente educado, até mesmo simpático, que nos dê a esperança de retomar agendas abandonadas pelo seu predecessor: os acordos de Paris ou que garanta o apaziguamento nas relações com o Irão. Se, pelo menos, nestas duas questões, e na preservação do Obamacare, fizer do período Trump a exceção a uma forma assertiva de intervenção política já algo se terá ganho com o sucedido.

Curiosamente têm existido muitos artigos e comentários sobre a questão de, derrotado Trump, haver forte probabilidade de persistir o trumpismo. Algo em que não acredito, pelo menos nessa forma, porque presumo existirem condições bastantes para acossar a execrável criatura com o seu curriculum fiscal, que não terá condições para continuar a esconder da opinião pública. Será que os seus fanatizados seguidores continuarão agarrados às teorias da conspiração e recusarão ver que o «magnata» só o é de aparência e, se grande possa revelar-se, será na condição de vigarista nos métodos de escapar aos impostos?

O problema do trumpismo é não se limitar a ser produto deste efémero personagem, porque já vinha anteriormente do Tea Party, de muitos dos cortesãos de sucessivos presidentes republicanos desde Reagan a Dabliú Bush, recuando ainda mais do macartismo ou, remotamente, do esclavagismo dos sulistas brancos dos Estados do sul. 

Por coincidência vi um elucidativo documentário neste final da noite: Monumental Crossroads de Tim Van Den Hoff, um holandês que andou pelo Alabama, pelo Mississípi, pela Virgínia e pela Luisiana para compreender o impacto da dinâmica de remoção de monumentos em honra dos militares confederados nas populações defensoras do suprematismo branco e com um ódio visceral ao marxismo. Encontrando quem defende perspetivas opostas (até mesmo um negro, que se passeia com a bandeira confederada e tem a nostalgia da escravatura!!!), ele explica indiretamente os motivos porque Trump ganhou as eleições em todos esses Estados. Porque a ignorância é tanta, a deturpação da História tão militantemente assumida e os preconceitos cristalizados, que dificilmente se adivinha quando olharão para o mundo sem filtros tão danosos e o aceitem como o veem os que votaram em Biden.

Não é o trumpismo, que perdurará. Será antes esta «cultura» retrógrada, que se encouraçou e dificilmente se deixa questionar.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário