domingo, 8 de novembro de 2020

A direita açoriana demasiado próxima da furna que a escaldará

 


É um escândalo que, para fazer governo nos Açores, o PSD se alie ao Chega? Claro que é!

Tratou-se da ultrapassagem de uma linha vermelha, que os partidos democráticos nunca se deveriam permitir? Claro que é!

Mas (quase) todas as más notícias têm o seu reverso e esta indicia duas coisas: por um lado, Rui Rio perde, um pouco mais, a aura benigna de que se tenta revestir, dando de si uma ideia que a prática comummente desmascara. Depois, a data da posse deste governo será a do início da contagem decrescente para novas eleições, que ocorrerão a médio prazo, porque o negócio entre os vários partidos está soldado de forma tão amadora, que as fissuras serão inevitáveis. Sobretudo, porque André Ventura apostará na demolição dos conjunturais parceiros, fiado de encontrar, em novas eleições, uma ampliação do seu eleitorado. Ora, nem a direita, que se alia aos fascistas para ganhar um ilusório cheirinho de poder, nem esses abjetos parceiros compreendem aquilo que Anne Applebaum disse esta semana: a derrota de Trump será decisiva para os populistas europeus voltarem ás tocas donde momentaneamente saíram. Porque fenece-lhes a ilusão de incorporarem uma estratégia de ascendente sucesso, afinal tão liminarmente cerceada no resultado ontem esclarecido. E, se em Portugal, a evolução das ideologias tende a chegar sempre com algum atraso, aos Açores parece que essa constatação ganha maior sentido. No fundo, José Manuel Bolieiro está fadado para ser breve parêntesis numa sucessão de presidências regionais que, só se se revelar incompetente no esforço de recuperação, o Partido Socialista não confirmará.

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