sábado, 7 de novembro de 2020

A noite do pífio caçador

 


Estamos na típica situação, que deu azo ao provérbio “nem o pai morre, nem a gente almoça”.

É claro que peca pelo exagero porque, na verdade, almoço é ritual que não dispensamos, mas Trump tarda em morrer (politicamente). E não é que  se trate de um pai, porque Pai dos Povos houve só um, o José e mais nenhum, por muito que as perspetivas dessa paternidade tenham-se consensualizado em torno de uma rejeição total, pois sabemos bem quanto a História costuma ser a dos vencedores, nunca a dos vencidos. E, dos regimes derrotados durante o século XX, a versão soviética do comunismo deverá ser a de mais trágicas consequências por quanto adiou a merecida derrocada do capitalismo, mesmo quando ele atingiu a dimensão predadora (para o planeta) e desigual, que a sua financeirização global implicou.

Se Trump poderá ser olhado com algo de paternal, sê-lo-á decerto para os deploráveis apoiantes, que da sua boca bebem o elixir capaz de os fazer acreditar nas mais inverosímeis histórias da carochinha e na terrível ameaça dos lobos maus (tudo quanto possa cheirar a socialismo!). Para os outros, a maioria dos americanos, que votaram em Biden, ele é mais uma espécie de padrasto, ainda mais execrável que a tradicional madrasta dos contos infantis, porque alia a malignidade à ameaça da força bruta, tal qual Steve Bannon tão exemplarmente demonstrou.

Acossado na Casa Branca, Trump desengana-se do que o espera: em vez do façanhudo Robert Mitchum a descer o rio atrás dos pobres enteados num filme mágico - A Sombra do Caçador de Charles Laughton (1955) - sobre um padrasto perverso, são os encorpados e intimoratos petizes, que vêm ao seu encontro e ameaçam dali despeja-lo com a persuasão necessária e suficiente. Assim no-lo prometeu Biden há algumas semanas, quando o questionaram a respeito do cenário, que agora se confirma.

O anúncio do óbito tarda mas, hora-a-hora, com o progressivo distanciamento entre o número de votantes dele e os de Biden, a resistência empalidece, o moribundo faz-se inevitavelmente cadáver. E não há, entre a gente decente, quem lhe formule os votos de paz à sua alma. Antes um t’arrenego, que pior que peçonha se revelou!

1 comentário:

  1. Ora, Jorge Rocha, os povos não precisam cá de Paizinhos que os guiem e Estaline era um criminoso da categoria de Hitler e Mao, que aliás teve a morte que mereceu, incutia tanto medo naqueles que o rodeavam que passaram horas até que alguém tivesse coragem de penetrar no seu quarto, onde o encontraram em agonia, quando ele não se levantou à hora do costume...

    Quanto ao narcisista Trump, já vai tarde, mas mostra que a mais imperfeita das democracias é melhor do que a mais perfeita das utopias (leia-se distopias), porque arranja sempre maneira de se livrar dos tiranetes que vão aparecendo...

    E, convenhamos, Trump e os Republicanos só mostram inteligência em tentarem colar Biden com o 'socialismo' (quando ele é um homem do centro-direita), se nos lembramos do horror que as comunidades cubana ou venezuelana da Florida sentem quando olham para o que se passa nos respectivos países (e alguma razão têm, convenhamos).

    Se o candidato fosse Sanders, que se intitula socialista (muito embora seja um social-democrata moderado), imagine-se como isso cairia como sopa em mel na estratégia de Trump.

    Mais vale um moderado no Poder que um socialista na oposição enquanto Trump se entreteria a matar o que resta da democracia na América...

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