sábado, 14 de novembro de 2020

Os negacionistas do covid e as manifs da restauração

 


1. Não constitui surpresa alguma que as manifestações dos empresários e funcionários de restaurantes e bares se vejam infiltradas pelos simpatizantes e militantes do Chega, mormente por aqueles que integram as ditas organizações negacionistas de médicos e jornalistas. Aquilo que sucedeu no Porto mais não foi do que a prova de vida, que esses fascistas, saídos do respetivo armário, pretendem evidenciar, tanto mais que Rui Rio acaba de lhes dar uma relevância imerecida.

Bem podem queixar-se os que se sentem prejudicados com o facto de verem o negócio condicionado por horários rigorosos, que a realidade é indisfarçável: os mortos diários contam-se por dezenas, os novos contaminados quase sempre acima dos seis mil. Que pretenderiam afinal? Que o governo legislasse no sentido de obrigar as pessoas a saírem de casa e irem aos restaurantes, quando a cautela leva muitas delas a tomarem cuidados, que perdurarão muito para além do início da vacinação universal e gratuita a toda a população?

Os empresários em causa podem ter muita razão mas, como dizia Al Pacino em The Sea of Love, as circunstâncias são as circunstâncias e contra elas não há outra estratégia, que não seja restringir ao máximo os contactos sociais e porfiar nas medidas individuais de autoproteção mediante o uso de máscara e as cautelas do distanciamento social. Se nem a Suécia consegue eximir-se de ir por esse caminho, agora que se conclui falaciosa a hipótese da imunidade coletiva. E até a própria Nova Zelândia, apresentada como caso-modelo, já está novamente a cuidar de resolver o pequeno surto que, sem conseguir-se perceber porquê, voltou ali a declarar-se.

São maus tempos para a restauração e para o turismo? São-no pois! Mas ninguém ouviu esses manifestantes reclamarem quando as políticas do governo atraíram ao país os milhões de turistas e lhes aumentou as margens de lucro com a revogação do aumento do IVA.

Se o capitalismo assenta na relação da oferta e da procura, eles não podem contar apenas com os momentos fartos em que a segunda excede em muito a primeira.

2. Será que os dirigentes do PSD não têm a noção de quão grotesca é a sua defesa do indefensável, pondo o Chega ao mesmo nível que o Bloco e o PCP? Será que, em política há algo pior do que a xenofobia, a violação dos direitos humanos e da Democracia? Será que existe algum paralelo entre quem levou décadas a combater a ditadura salazarista e a morrer ou ser preso por isso, e os prosélitos  de Ventura que não escondem as saudades desse negro passado?

Desde Manuela Ferreira Leite a Nuno Morais Sarmento, de Fernando Negrão a Rui Rio a máscara desapareceu e ei-los arvorados em cúmplices da ignomínia.

3. No Peru repetiu-se a estratégia que, há cerca de um ano, obrigou Evo Morales a exilar-se. Os que se conluiaram para derrubar Martin Vizcarra enfrentam agora a revolta popular em Lima e noutras cidades andinas. A exemplo de Rui Rio, os golpistas do Congresso peruano não perceberam que a derrota de Trump constitui o dobre de finados para uma certa forma de fazer política.

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