quarta-feira, 4 de novembro de 2020

O abanão que tarda

 


Admito o excesso de otimismo. Por esta altura já da garrafa de espumante, preparada para a ocasião, só deveria restar o invólucro vazio no contentor dos vidros por reciclar. E Trump deveria estar a preparar-se para outro tipo de reciclagem: a dos vigaristas a contas com a justiça por fraudes fiscais, se é que só por essas tivesse de responder.

Ao invés chegamos a quarta-feira à noite e, roídas as unhas até ao sabugo, não há como aguentar a espera - que a Pensilvânia promete prolongar até sexta-feira! - para ter-se a certeza da almejada mudança. Porque não bastou a grande mobilização do eleitorado democrata dado o outro, o dos deploráveis ignaros, também acorrer em massa, ciente de se ter chegado a um daqueles momentos históricos em que a realidade tende a derivar para um ou outro lado. E que, em ambos, se multiplicam os braços para decidir para qual ela tenderá.

Não faltaram «habilidades» destinadas a impedir afroamericanos e latinos de votarem, mas também tardou a revelar-se consequente a mudança demográfica em certos Estados, mormente no Texas, que chegou a pender para Biden, mas, ainda por esta vez, manteve-se à justa a favor de Trump. Assim como se subvalorizou o peso da comunidade cubana de Miami ou até o voto de muitos negros da Flórida, desmentindo a expetativa de ver quase todos eles agirem de acordo com a regra de serem importantes todas as black lives.

Desmentida ficou, igualmente, a suspeita da transposição sociológica da regra newtoniana, que sugeriria uma reação de igual dimensão à que correspondera a ação. O que significaria uma América muito puxada para a esquerda a sobrepor-se àqueloutra, decididamente muito próxima da extrema-direita durante estes últimos quatro anos. Decididamente há leis da natureza que, quando replicadas nas sociedades humanas, não respeitam a mesma lógica.

Nesta altura ainda é possível que a garrafa em causa não passe desta semana mas, provavelmente, Trump venderá muito cara a derrota. Porque sabendo-se como todo o seu «império» pessoal está tão falido quanto os seus mastodônticos casinos de Atlantic City, ele procurará evitar por quatro anos mais, que se desmascare o castelo de cartas pronto para ruir ao mais pequeno abanão. Só falta mais um bocadinho para que tenhamos o privilégio de assistir da bancada a tão auspicioso acontecimento.

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