quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Diz-me com quem andas...

 


No blogue Ladrões de Bicicletas Nuno Serra explicou lapidarmente o que levou Rui Rio a aceitar, e até a justificar, o que poucos conseguem compreender: a aliança com o Chega nos Açores: “Percebendo que sem vender a alma ao diabo não poderá, tão cedo, pensar em ser governo, Rio cedeu e mandou às malvas os princípios essenciais de um partido democrático. (...) Que fará o PSD quando o Chega, que tem a faca e o queijo na mão a partir de agora, lhe fizer exigências adicionais para viabilizar orçamentos? Ou será que Rio acredita que o Chega é de confiança e não fará mais exigências a partir daqui? Quem é que ficou no bolso de quem, afinal? E a que preço?”

Para Manuel Carvalho no Público Rui Rio (...) atravessou o Rubicão. Nada será como antes. A direita democrática e civilizada expôs-se ao vírus do populismo e da demagogia e arrisca-se ainda mais à convulsão; e o PSD despe a sua pele social-democrata e dificilmente deixará de ser visto como a força política que branqueou a mensagem xenófoba, iliberal e atentatória de direitos humanos básicos do partido de André Ventura.”

Como escrevia  o Jovem Conservador de Direita, “a inclusão do Chega na família da direita responsável e democrática é como a construção de uma marquise num apartamento de luxo. Fica mal e estraga o apartamento, mas aumenta a área útil do imóvel.”

Para Alfredo Barroso a notícia revela “a tragédia dum homem ridículo a tentar justificar ridiculamente um acordo deveras ridículo que abre as portas do poder, por mais insignificante que ele seja, a um partido neofascista, racista, xenófobo e antidemocrático, cuja legalização, à luz da Constituição da República, nem devia sequer ter sido permitida” enquanto Daniel Oliveira mostra-se mais complacente para quem chegou a entrevistar no seu podcast: “Não chega ser um político sério, é preciso perceber de política para ser um bom político. Assim como não entregamos a construção de uma ponte a um engenheiro honesto que nada sabe de engenharia, não podemos entregar o poder político a quem não percebe os perigos políticos que enfrentamos.”

O perigo desta aliança contranatura vir a beneficiar quem deveria ser objeto de merecido ostracismo - como aliás é sugerido pela meia centena de subscritores de gente de direita, manifestamente escandalizada com o negócio - leva, porém,  Jorge Bateira, a alertar para a existência de “muitíssima gente farta de esperar por melhores dias, (...) muitas vidas abandonadas, não reconhecidas, invisíveis, (...) muitos desiludidos com as promessas não cumpridas da democracia, muitos eleitores dispostos a votar em alguém que dê expressão à sua raiva.E são eles que as esquerdas têm de saber reconquistar, dando-lhes fundamentadas expetativas de irem ao encontro das suas aspirações.

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