domingo, 15 de novembro de 2020

O Covid 19 e as potencialidades da inteligência artificial

 


A sequenciação do genoma humano foi projeto iniciado em 1990 só chegado a bom porto em 2003. Dezassete anos depois o mesmo trabalho efetuado para identificar o covid 19 demorou quatro dias a concluir-se, logo seguido pela criação da cópia biológica do mesmo por uma equipa australiana. Nem foi necessário o espaço de uma geração para a inteligência artificial dar tal pulo evolutivo, que justifica o otimismo de Serguei Young, quando defende a possibilidade de, daqui a dez anos, vir a ser muito mais rápida a solução para uma pandemia deste tipo, que nos vem assombrando os dias  ao longo deste ano. Mas não só! Os cancros poderão ser identificados numa fase mais precoce, instando-os mais atempadamente à remissão e com menores custos para os sistemas de saúde.

Embora tantas vezes diabolizada por quem a vê como ferramenta imprescindível para a afirmação de totalitarismos mais perversos, a inteligência artificial comporta potencial para apresentar respostas inovadoras a muitas das ameaças sanitárias do nosso tempo. Até mesmo de outras pandemias tão ou mais graves que o covid 19 - o paludismo, o ébola, o VIH - que nunca têm merecido da indústria farmacêutica o necessário investimento por incidirem, sobretudo, nas populações pobres de África, as quais nem sequer têm muitas vezes acesso ao ibuprofeno ou ao paracetamol.

Hoje ganha-se consciência da irracionalidade de manter a indústria farmacêutica refém da evolução das suas ações nas bolsas, justificando-se que operem numa exclusiva lógica do lucro. Até porque as patentes dos medicamentos só duram dez anos, podendo doravante ser replicados como genéricos, e com custos mais baixos, por laboratórios chineses ou indianos. Começam a levantar-se vozes em defesa de uma estratégia fundamentada nas economias de escala e que implique um esforço da União Europeia para assumir a liderança na investigação e fabrico de medicamentos, mediante investimento público, com a contrapartida da criação de empregos e os ganhos em receitas fiscais de outra forma transferidas para outros destinos extracomunitários. E, igualmente, focalizado na mudança de paradigma de prevenir as doenças, mesmo não perdendo de vista o combate aos seus sintomas.

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