terça-feira, 1 de setembro de 2020

Porque não?


Na entrevista deste fim-de-semana, quando questionado se iria ou não à Festa do Avante, António Costa teve uma resposta, que subscrevo por inteiro: “desde que sejam cumpridas as normas de segurança, vou com o mesmo conforto com que fui ao primeiro concerto no Campo Pequeno ou que tenho ido a diversos espetáculos de teatro, cinema, transportes públicos. Desde que haja condições de segurança, porque não?”
Daí que faça algum sentido aquilo que, sobre o assunto, Ana Sá Lopes escreve hoje no «Público»: “fazer da realização da Festa do Avante! um drama nacional é desproporcionado e, vá lá, um bocadinho ridículo”.
Ridículo sê-lo-á e até nem seria mau que a ele se cingisse: como às vezes mata, poderíamos ter a expetativa de nos livrarmos de uns quantos comentadeiros, que andam por aí a semear uns bitaites, esperançados em criar as condições ideais para imitarem aqueles que Brecht denunciou num célebre poema sobre alguém que não se incomodou por virem buscar sucessivamente os vizinhos judeus, comunistas ou católicos antes de ser a vez de também a ele lhe caber essa «sorte».
A atual campanha mediática procura criar algo, que o macartismo conseguiu nos EUA: associar a palavra socialista a algo tão hediondo, que só pode sujeitar os seus defensores à condenação pública. Veja-se a impossibilidade de Bernie Sanders ou Elizabeth Warren chegarem à nomeação pelo Partido Democrático, já que se o próprio Joe Biden (que transplantado para a realidade portuguesa estaria entre o partido do Chiquinho e o do rio que nunca chegará ao mar!) é considerado por Trump como um socialista radical, que aconteceria se se confrontasse com quem se alinha por essa perspetiva ideológica? Veja-se como a jovem congressista Alexandra Ocasio-Cortez é objeto de quotidiano assassínio de carácter por parte da estação de Murdoch!
A atual campanha anti-festa do Avante insere-se na lógica do poema de Brecht: primeiro diabolizam-se os comunistas com argumentos que, segundo a mesma Ana Sá Lopes, passam por acrescentar a hipótese de almoçarem velhinhos depois de terem comido criancinhas ao pequeno-almoço. Silenciando-os, reduzindo-os a seita diminuta, focarão a atenção sobre os socialistas. Também eles serão objeto de insidiosas campanhas que já se vão detetando nas pessoas de Pedro Nuno Santos e João Galamba. Nessa altura talvez quem lidere o PSD com ainda menor pejo em deitar-se com os que propalam ideias nazis, se sinta capaz de erradicar do poder quem vem mostrando capacidade para melhor o gerir nestes últimos cinco anos!

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