quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Burro velho não toma andadura

 


Os provérbios populares são pouco simpáticos para com os burros, que sabe-se serem bichos bem mais cordiais e inteligentes do o povo os caracterizam. Mas as tradições são as que são e, tal qual tenho às vezes de pedir desculpa aos loiros e às loiras naturais para zurzir nos loiros e loiras mentais, também aqui devo penitenciar-me perante os afáveis jericos para falar de quem se comporta na política de acordo com o que os provérbios populares os associam.

Tomemos então Rui Rio como alvo. Velho de pensamento, mais do diz o bilhete de identidade, não toma andadura e se a toma, pouco dura. De facto, lá de longe em longe, até parece dizer alguma coisa asizada, mas logo volta ao normal, que é o de proferir disparates.  Igualmente mostra-se pouco dotado para línguas, particularmente as que têm a ver com a economia e as finanças. Preso aos dogmas - que se mingue o Estado e se privilegiem as empresas privadas - mostrou nada aprender com as conclusões decorrentes da tripla crise em que estamos mergulhados: a sanitária, a económica e a social. Não se tivessem os Estados chegado à frente, quem poderia valer aos mais desprotegidos numa circunstância em que as empresas privadas foram as primeiras a desertar do campo de batalha?

O que ontem se viu na Assembleia da República justificou plenamente a perplexidade de António Costa. Porque a única ideia, diria mesma obsessão, trazida por Rio a debate foi a de manter o salário mínimo tal qual está. Ter-lhe-á passado ao lado o quanto o aumento dos rendimentos dos mais pobres alavancou o crescimento da economia a partir de 2016. E o primeiro-ministro tratou de lembrar-lhe quão apocalítica era a previsão do zandinga que o antecedeu como líder do PPD e quanto ela falhou rotundamente.

O debate ainda não tendeu para a convergência das esquerdas, já que o Bloco e os comunistas estão a fazer o que lhes compete no processo negocial: fazerem-se difíceis para melhores dividendos políticos tirarem para as suas bases sociais de apoio. Mas como só as esquerdas defendem uma orientação apostada no investimento do Estado e no aumento dos rendimentos, falta saber como se irão entender. Porque só assim as grandes conquistas que foram feitas através do Serviço Nacional de Saúde, do ensino público e de outras políticas sociais poderão ter continuidade.

Rui Rio nada parece ter lido desde que Milton Friedman quis reduzir o Estado a quase nada, deixando a mão invisível dos mercados agir à tripa-forra. Em várias latitudes sabe-se o que disso resultou. Mas, indiferente, à realidade, Rio prefere ficar preso no labirinto dos seus preconceitos ideológicos.

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