segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Lembremos aos que esquecidos estão (3)


As circunstâncias levam-me a adiar a abordagem que pretendia hoje dedicar às práticas ideológicas de Ana Gomes - o seu oportunismo quando aterrou nos apoios a António Sampaio da Nóvoa em vésperas das presidenciais de 2016 após ter sido uma das mais insistentes impulsionadoras da candidatura de Maria de Belém! - para abordar a mesma característica pessoal na forma como está a lançar-se, como gato a bofe, contra António Costa a propósito da aceitação para integrar a Comissão de Honra da recandidatura de Luís Filipe Vieira aos comandos do Benfica.
Esta tentação de se colar ao que cheira como mediática campanha contra quem julga fragilizado tem sido o timbre da sua conduta ao longo da sua «militância» socialista, que lhe têm valido, nos mais incautos, a admiração por a julgarem «corajosa», «irreverente» contra quem entendem ser os «poderosos».
Que os seguidores do Kim Jong-ventura a acolham como uma dos seus na interpretação da realidade feita do continuado prejuízo dos «cá de baixo» devido aos desvarios da «elite», não surpreende. Há sempre gente de inteligência a roçar a idiotia, que não consegue distinguir a aparência do conteúdo e aceita a demagogia fomentada pela Cofina & Cª para impedir o país de progredir. Agora que socialistas respeitáveis se deixem embalar por lógica semelhante, dá para inquietar. Porque aquilo que Ana Gomes reiteradamente viola é um dos mais sagrados princípios republicanos, um dos que maior importância tem na sua ética, quando falamos de Justiça: a PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.
Um dos maiores crimes que as direitas conseguiram instilar em quem se situa à esquerda é a violação dessa regra, que qualquer Republicano, Laico e Socialista - para lembrar a célebre fórmula exposta por Mário Soares - deverá assumir com convicção.
Um arguido só passa a culpado, quando um tribunal assim o demonstra e pune. Ponto final.
E, no entanto, a propósito de José Sócrates não foi isso que aconteceu: tal como agora intenta fazer o mesmo com António Costa, essa direita antirrepublicana, antidemocrática, multiplica assassínios de carácter para desgastar, para corroer o apoio usufruído na maioria dos eleitores (vide os resultados da Eurosondagem) e preparar o terreno propício à degola do putativo inocente.
Muito embora seja amiúde atacado por continuar a defender o antigo primeiro-ministro, desconfiando da incapacidade do Ministério Público em provar aquilo de que o acusa, ele já foi julgado e condenado na praça pública com muita gente de esquerda a contribuir para o auto-de-fé,  E Ana Gomes foi uma das que mais cavalgou nessa onda, decerto voltando a mostrar-se «chocada», quando o resultado final diferir daquele em que ganhou votos junto dos prosélitos.
(Diga-se de passagem que as declarações do «animal feroz» também não ajudaram o próprio, o que demonstrou o seu desajuste para a governação por ser-lhe ponto fraco essa incapacidade para controlar as emoções, precisamente uma das principais razões porque Ana Gomes é completamente inadequada para o cargo a que concorre!)
Estará a falar o meu clubismo, que me leve a defender um demonstrado culpado? Tenho pelo meu lado os muitos amigos, que sabem serem outras as minhas simpatias clubísticas e que bem afastadas estão do estádio da Luz. Mas, para o efeito, pouco importa: a campanha de assassínio de carácter de António Costa a que, de imediato Ana Gomes e Marcelo se atrelam - procura desviar a atenção dos cidadãos para o que mais lhes deve importar: dentro dos condicionalismos suscitados pela pandemia, não tem sido elogiosamente competente a gestão da crise pelo atual primeiro-ministro? Não foi ele quem batalhou fortemente com os principais líderes europeus para que Portugal venha a ter um pacote de apoios económicos suficiente para recuperar a sua economia e relançar-se como país carregado de futuro, como Gabriel Celaya dizia ser a poesia?
O que uma campanha como a agora intentada pelas direitas pretende é repetir o sucedido em 1985: Mário Soares conseguiu inserir Portugal na Comunidade Económica Europeia e foi Cavaco Silva quem veio aproveitar os muitos milhões de subsídios para nada mudar de essencial no país (em termos de criação de uma economia forte e de uma justa distribuição de rendimentos entre os portugueses!) secundando os interesses dos tais Donos disto Tudo e dos seus amigos mais diletos.
Ao apoiar-se na atual campanha contra Costa, Ana Gomes está a ser a habitual idiota útil das direitas e de Marcelo em particular, já que sabemos bem quanto ele gostaria de ver esses milhões geridos pelo seu campo ideológico.
Voltamos, assim, à questão da presunção de inocência como valor republicano desconhecido, e até continuamente torpedeado, pela proclamada Pasionaria anticorrupção. Nesta altura Luís Filipe Vieira não foi condenado por nenhum tribunal e o sócio do Benfica António Costa tem todo o direito em apoiá-lo para continuar à frente do clube da sua predileção.
Teria sido preferível que o não fizesse? Se aceitamos pôr a questão nesses termos começamos a fazer o jogo dos que criam estas campanhas. Ele tem todo o direito de o fazer, ponto final.
O que não podemos ignorar é estar em curso uma estratégia para se afastarem as esquerdas do poder e substitui-las pelas direitas donde volta a despontar a cabeça de Passos Coelho, pré-anunciado por um dos seus lugares-tenentes. Pressentindo a oportunidade, e contando com a providencial ajuda de Ana Gomes, essas direitas anseiam por fazer a roda do tempo voltar cinco anos atrás e terem a oportunidade para prosseguirem no que pretendiam implementar para o país. Que haja socialistas iludidos com quem lhes vai dando a mão é insensatez, que não compreendo!

5 comentários:

  1. Não, Jorge Rocha, o idiota útil neste polémica não é outro senão o próprio António Costa.

    Luis Filipe Vieira não foi ainda declarado culpado de nada, mas sobre ele impendem múltiplas suspeitas (fundadas, ou não fosse ele arguido de vários processos), assim como são as suas empresas que objectivamente devem milhões e milhões ao Novo Banco, intervencionado pelo Estado.

    Fosse ele um candidato qualquer à Presidência do Clube de António Costa e o recato que é devido a um PM mandaria que Costa não tomasse partido a favor de quem quer que fosse. Com estas suspeitas, aplica-se o princípio de que à mulher de César (Costa, claro) não basta ser honesta, também tem que o parecer mantendo-se bem afastada de alguém como Luís Filipe Vieira.

    O Jorge Rocha deixa que o seu clubismo partidário lhe tolha mais uma vez o raciocínio. Costa pode ter todo o direito de fazer algo, que isso não faz de tal acção algo nada menos estúpido do que se houvesse uma qualquer proibição legal para ela (mas vale a pena ler o código de conduta do Governo e notar a prudência que ele recomenda os seus membros).

    Quer que o Governo que apoia dure? Faça mas é pressão sobre os seus responsáveis para que não sejam burros e imprudentes, não acuse agora as Direitas e Ana Gomes de se aproveitarem de algo que revela absoluta falta de bom-senso e não invente conspirações que mais não são que o habitual combate político que pode ser bem duro (imagino o que você não diria se no lugar de Costa estivesse Passos Coelho). É a vida!

    Por último, as posições ideológicas de Ana Gomes são seguramente um justificativo para que não se vote nela, muito embora a declaração de voto de Isabel Moreira em João Ferreira com a explicação de que ele defenderá o Estado de Direito não lembra ao diabo, dado o apoio do PCP a regimes como o de Cuba ou da Venezuela (como bem lembrou ontem Gomes, já a referência às colaborações profissionais de Moreira ficou-lhe francamente mal), agora que a situação actual mostra bem o efeito de balcanização que as Presidenciais têm sobre o PS, desde o embate Soares-Alegre em 2006, lá isso mostra.

    Eu sugeria que os Socialistas se preocupassem com os seus adversários externos e deixassem os ódios internos para outra ocasião. Há o risco, que diabo, de um Fascista ficar em segundo lugar, e você diz pelo seu lado que se houver uma 'Noite das Facas Longas', isso é a vida?

    Finalmente, o problema menor de Sócrates é o seu mau feitio. O problema maior é a sua falta de ética e de inteligência. Costa, como sabemos, é uma pessoa honrada, mas parece que está a deixar que o poder lhe corrompa a sua fria capacidade de análise...

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  2. amen nada a dizer contra factos nao á argumentos mas só dizer que antónio costa devia saber e sabe que os lobos estan á espreita e devia ter cuidado con estes lobos ele nao é un novato na politica eu nao gostei de essa foto

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  3. E, já agora, chamo-lhe a atenção de uma coisa. A presunção de inocência é uma figura do Direito Penal, porque as consequências para um acusado de ser considerado culpado são terríveis, passa a ser um criminoso condenado e pode ter que cumprir pena de prisão, ou seja de privação da liberdade. Daí o ónus da prova ser tão elevado, nos EUA é mesmo para além da dúvida razoável.

    Para fazermos um julgamento político, ou ético, não precisamos desse patamar. Se o comportamento de uma personalidade for dúbio (como no caso de Sócrates ou de Vieira e houver suspeitas fundadas da prática de crimes graves) isso deve ser suficiente para que no mínimo se deva manter a distância em relação a essa pessoa. É puro bom-senso.

    A ética republicana não é a Lei, vai muito para além dela, chega à virtude da impoluta honradez...

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  4. Como é possível uma pessoa tão informada como o Jorge Rocha, quem eu sigo aqui há anos, "gastar" 2 posts (ontem e hoje), a defender o indefensável? O clubismo é uma doença e o benfiquismo na verdade une os portugueses como nenhuma outra coisa. Que pena...

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