Conhecida quase uma dezena de candidatos às eleições presidenciais de janeiro, há dois que estão atualmente numa situação de particular desconforto. O primeiro é o da extrema-direita, que julgou possível transformá-las num lamaçal donde melhor se saísse quem mais insultasse e mentisse. A indiferença, que as candidatas das esquerdas lhe estão a dedicar deixa-o na incómoda situação de ver-se a falar sozinho numa praça pública onde, no meio do burburinho quotidiano, a sua voz, mesmo que gritada, se perde na cacofonia ruidosa. Ademais será curioso perspetivar o que serão os debates com Marisa Matias, quando esta não deixar de o confrontar com aquilo que é tema na crónica de Susana Peralta hoje no «Público»: ao querer uma taxa de imposto igual para todos os portugueses, sejam ricos, sejam pobres, ele denuncia claramente o que o traz à ribalta, ou seja, interceder tanto quanto possível para que a fiscalidade deixe de ter papel determinante na diminuição das desigualdades, fazendo com que os ricos paguem menos impostos do que já pagam. Para os seus apaniguados, que virem esse debate, haverá a surpresa de quem julga levar Kim Jong-ventura Marisa à tosquia e sair de lá tosquiado até á calvície.
O outro candidato em dificuldades, mesmo ainda sem ter oficializado a candidatura, é Marcelo. Meses atrás o sempre bem informado «Expresso» sobre o que vai no pensamento do inquilino de Belém, informava haver nele o sonho de ultrapassar a votação de Mário Soares quando se recandidatou em 1991 e mereceu o apoio de 70,35% dos eleitores.
Agora até o requisito básico de imitar todos os presidentes que se recandidataram e tiveram mais votos à segunda vez do que quando começaram por ser eleitos, está em causa. Os 52% de 2016 podem ficar seriamente comprometidos já que, nas vésperas da Festa do Avante, hipotecou os votos dos comunistas que tinham virado costas a Edgar Silva e confiado nele só porque fizera a mercê de os visitar na Quinta da Atalaia fazendo disso ampla publicidade. Perderá, igualmente, os votos dos muitos eleitores socialistas, que ficaram desnorteados com a jogada suja da direita do PS ao apresentar Maria de Belém para sabotar a hipótese de apoio oficial do partido a Sampaio da Nóvoa optando por quem lhes era mais conhecido e andava a fascinar as almas inocentes numa roda viva de selfies e de abraços. Desta feita, embora a mesma direita socialista apresente a sua candidata, que colaborara ativamente na operação anti-Sampaio da Nóvoa em 2016, pode-se reconhecer que ela angariará mais votos do que a conhecida provedora dos interesses da medicina privada dentro do PS. Votos que se subtrairão aos que apostaram em Marcelo e ainda se somarão a uma parcela dos 20% que, votando em Sampaio da Nóvoa em 2016 não terão problemas de consciência em premiar uma candidata que contribuiu para que ele não tivesse o merecido apoio para melhor se sair do confronto de há cinco anos.
Analisadas assim as coisas até será positivo o resultado expetável: com Marisa e Ana Gomes a disputarem o segundo lugar com votações entre os 15 e os 20%, o candidato da extrema-direita ficar-se-á, na melhor das suas hipóteses, pelo quarto lugar. O que limitar-lhe-á a prosápia com que vem-se manifestando nos meses mais recentes. O destino do Pardal dos camionistas ficar-lhe-á mais próximo.
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