terça-feira, 22 de setembro de 2020

Lambendo as feridas do fim-de-semana

 


Ao regressar de Évora, onde passou um fim-de-semana de contrariedades, aquela conhecida flor de estufa - reiteradamente vetada por Ricardo Araújo Pereira para comparecer no seu programa dos domingos - deve ter-se sentido particularmente frustrada. Não lhe deem abundante suplemento de alma e as coisas tendem a complicar-se-lhe.

Lá de fora as notícias não podem ser piores: o amigo Salvini apostou forte na Toscânia e teve derrota clara, que o põe em causa dentro do próprio partido; é certo que a amiga Marine até lhe mandou mensagem, mas provavelmente no intervalo das ruminações por ter a sobrinha Marion a roer-lhe as canelas acusando-a de incapaz de vencer as próximas presidenciais; e até o amigo Trump - que valha a verdade nem sequer sabe da sua existência! - enfrentou notícias de justificar uma investigação do FBI, há sete ou oito anos, porque o suspeitaram de ser espião russo.

Se poderia colher inspiração e apoio de além-fronteiras, as hipóteses tendem a esfumar-se. Mas cá dentro as coisas não correm melhor: a sondagem da Aximage mostra que, afinal, ele quase nada ganhou em apoiantes vindos de outros partidos, à exceção de um só. Aqueles que, envergonhados, tinham-se sempre escondido no CDS, vieram agora bater-lhe à porta porque o puto imberbe não os emociona e ele pareceu prometer-lhes mundos e fundos, que sabe serem pura aldrabice.

Mas foi mesmo em Évora que as coisas se complicaram: começou logo na sexta-feira à noite, quando a demonstração de força na praça do Giraldo se saldou por indisfarçável humilhação. Nos quinze minutos, que ali aguentou, não lhe valeriam algodões nos ouvidos para ouvir a voz do Zeca a cantar ruidosamente o detestado Grândola. O domingo foi, porém, infernal: quem diria que iriam fazer a desfeita de derrotarem duas vezes a direção dos seus mais fiéis comparsas?

E como não conseguiu disfarçar a humilhação expondo-se, na expressão de menino amuado para que as televisões a exibissem para todo o país. A ideia de uma grandiosidade interior, que o levaria a vencer mouros, vermelhos e ciganos até anunciar de Belém a boa nova de um país ancorado nos valores do lente de Santa Comba Dão, foi-se estiolando. Agora já nos podemos deleitar com qual será o seu discurso quando, na noite das presidenciais, comentar os resultados que o darão muito atrás de Marcelo, de Marisa Matias, de João Ferreira e até de Ana Gomes. Sobretudo se lhe sobrar um pingo de decência e anunciar que, envergonhado, nunca mais se atreverá a mostrar-nos o rosto na imprensa audiovisual e escrita. Porque, nessa altura, nem sequer a Cofina encontrará nele préstimo para o recauchutar como comentador desportivo.

Este poderá ter sido o fim-de-semana que ele lembrará como o princípio do fim, que o leve a ir fazer companhia ao pardal dos camionistas.

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