É claro que os meus textos recentes, a justificarem as razões porque, a par de Marcelo, também Ana Gomes jamais colherá o meu voto nas presidenciais de janeiro - e até pré-anuncio o voto em branco acaso os dois se encontrassem numa improvável segunda volta! - tem suscitado maioritário apoio nos muitos dos quase quatro mil amigos do Facebook e de não sei bem quantos que me seguem no Tweeter, mas também, de alguns, a veemente discordância. Mesmo nuns quantos com quem a consonância de ideias tem sido quase unânime.
Esta manhã um questionava sobre estar a fomentar uma espécie de «noite das facas longas» dentro do PS, tomando a antiga eurodeputada socialista como alvo. Aqui cumpre-me lembrar que, como diria António Guterres, «é a vida!». E é-o de facto dentro de todos os partidos e até de todos os países: as suas políticas equivalem-se a um cálculo vetorial onde diversas forças se confrontam, saldando-se por uma resultante dessas contradições. Sempre assim foi, sempre assim será.
Dentro do atual PS não faltam os que mantém a azia dos acordos com a CDU e o Bloco, e Ana Gomes sempre esteve com eles, embora agora comece a assinalar-lhes a necessidade (mas isso é tema do texto de amanhã, que desmascara-lhe o oportunismo, como aconteceu quando, entusiasmada defensora da candidatura de Maria de Belém, compareceu como apoiante de Sampaio da Nóvoa em vésperas as eleições de 2016, quando presumiu a séria possibilidade dele passar á segunda volta com Marcelo!). Mas, ainda no PS, há os que desejam apoios mais firmes com essas esquerdas, que prolonguem por vários anos um governo com as características do da anterior legislatura, ou replique o atualmente no poder no país vizinho. E nestes me incluo. Assim como há quem procura uma bissetriz entre essas duas forças internas principais e é nesse equilíbrio, que situo naturalmente António Costa. Se sou apoiante firme deste último não é por vê-lo fazer o desejável, mas por o saber determinado a levar por diante o que é possível.
Noite de facas longas foi o que se seguiu ás legislativas de outubro de 2015, quando os resultados eleitorais deram a maioria relativa ao PÀF, mas a absoluta ao conjunto das esquerdas. Isto depois de um verão tenebroso em que as direitas, acolitadas nas televisões e nos jornais, organizaram sucessivas campanhas contra António Costa, ora de carácter insidioso, ora indo até ao assassínio de carácter. Naqueles dias que se seguiram os derrotados das primárias viram oportunidade de ouro para fazer o partido voltar para trás. E Ana Gomes foi uma das mais ativas intervenientes nessa campanha, que passava pela intenção de Álvaro Beleza em candidatar-se a novas eleições internas contra Costa, secundado por António Galamba, logo apressado a pedir a demissão do líder. Ana Gomes, sintonizada com os dois, multiplicava-se em aparições televisivas a declarar-se chocada com os resultados e a apoiar-lhes as intenções. Não é por acaso que olhamos para os seus apoiantes e esse grupo, que queria um PS acavacado, é maioritários. Por isso quem anda por esta altura a lamentar que, a propósito da desqualificação de quem apoiam, se verifique um divisionismo entre socialistas, convém que olhem para trás e confiram a prática de quem apoiam. Porque, nesse momento histórico, esteve em causa o país que viríamos a ter nos quatro anos seguintes e nestes que agora lhes sucedem. Tivessem Beleza, Galamba e Ana Gomes conseguido o seu intento e Passos Coelho voltaria a ser primeiro-ministro para concluir o trabalho de desregulação da economia e de privatização do resto que permanecia na alçada do Estado.
Felizmente foi outra a direção tomada pelo país com Costa a concluir acordos com a CDU e com o Bloco, levando a eurodeputada a manifestar sérias dúvidas em como eles tivessem grande futuro. Também aí juntava a voz ao coro das direitas, que previam efémera viabilidade para a solução política encontrada. Por isso, nestas presidenciais existe uma opção clara entre os que queriam ver o país voltar ao que era, com as direitas no poder - e assim votará quem puser a cruzinha em Marcelo e Ana Gomes - e os que querem prosseguir na via da convergência das esquerdas. Esses, como disse Pedro Nuno Santos, votam em Marisa Matias ou em João Ferreira.
Isabel Moreira já anunciou que vota no segundo. Eu prefiro apoiar a primeira. E, respondendo a outro amigo, que contestou a minha posição por preterir a candidata, que vê como humanista e democrática, pois bem!, também são qualidades, até mais superlativas, que encontro naquela que apoio.
Nunca votei em Marcelo e pensava nunca ter de o fazer, embora na actual conjuntura considere que possa ser o candidato que mais importa ao pais, mas receio que os votos socialistas anti/Marcelo, pouco mais consigam que beneficiar o candidato do CHEGA, me levem a votar nele.
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