Kim Jong-ventura, o führer, o duce, o grande educador, foi reeleito com noventa e nove por cento dos votos, mais uns pozinhos, o que lhe valeu mensagem rendida de Marine Le Pen, roída de inveja pela bem mais pífia rentrée em Fréjus - o Libé assevera ter-lhe faltado sumo! -, como de costume iludida com supostos sinais esperançosos no seu campo ideológico tendencialmente a minguar.
Confortado com tão unânime apoio, o querido líder encanta-se com quantos pincham paredes com cruzes suásticas ou imitam o KKK em frente à sede do SOS Racismo. Que gestas gloriosas se lhe anunciam apesar de não o abandonarem os pesadelos a ver-se replicado num Bannon algemado. Quando desperto, sonha com mísseis, porventura com vistosas bombas atómicas, contentando-se, por ora, em ver-se bendito entre as evangélicas, na expetativa de iminentes orgasmos místicos entre as demais mulheres, que o ajudem a espalhar-lhe a fé junto dos respetivos homens, candidatos ou não a deixarem de fumar.
A vantagem de um sapo se imaginar boi é ficar-se pelos cornos imaginários na cabeça. Quanto mais incha, incha e incha, acaba por rebentar! Muito mais longe foi o Pardal dos camionistas, capaz de parar o país por uns dias no ano passado, e quem dele agora se lembra?
Mas a megalomania da bela de ocasião tem efeito divertido em Rui Rio: queria casamento com comunhão de adquiridos e leva de volta a exigência de a transformar em geral, sem ordem de olhar para o lado (socialista), quanto mais a de se atrever a tentações de pular a cerca. Guita apertada impõe-lhe o Jong-ventura como requisito para prosseguirem o namoro. Mas o sogro da aprazada reunião de alcova - esse Pacheco Amorim, bombista dos tempos do MDLP, dado como cabeça pensante do desmiolado cabeça-de-cartaz - já se apressa a tirar as dúvidas ao pretendente, nem sequer dele o comovendo o pertinaz anticomunismo dos últimos dias.
Sem o Chiquinho, cada vez mais chiquininho no seu cêdêéssezizinho, e com os ultraliberais acantonados no seu cantinho, quem quererá casar com tão triste carochinha? Rio sabe que the winter is coming e é ele o zombie que intentava assaltar a fortaleza vendo-se contratacado pelos Guerreiros do Norte Anuncia-se nova convergência à esquerda como o prenuncia Jerónimo de Sousa no discurso de ontem ao apresentar um vasto caderno de encargos com a convicção de quem queria inicialmente cem mil visitantes por dia, para depois aceitar um terço e ficar-se enfim, heroicamente, por um sexto. Mas a vida é assim: pedem-se mundos e fundos e fica-se pelo que, sensatamente, é possível. E sensatez não falta ao rodado comunista.
Bem pode Rio entreter-se com cartas de amor ridículas a Jong-ventura exercitando-se numa arte em que Pessoa se confessava exímio. Acabando como Álvaro de Campos, a reconhecer-se com “Cansaço assim mesmo, ele mesmo,/ Cansaço”.
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