terça-feira, 29 de setembro de 2020

Fará sentido justapor as ideias de progresso e de esquerda?

 


Interessante o debate atualmente em curso em França a propósito do que ajuizaria Jean Jaurès - ainda hoje tido como a grande referência dos socialistas! - se voltasse aos nossos dias e olhasse para símbolos do progresso como o são as garrafas de plástico, os navios de cruzeiro, as centrais nucleares ou o 5G.  Aceitaria tratarem-se de notáveis avanços tecnológicos, que suscitariam progressos sociais, ou vê-los-ia como perversões do atual capitalismo, merecedoras de justificada censura?

A questão pôs-se esta semana, quando o partido de Macron aproveitou a luta das esquerdas para travarem o 5G para as crismar de retrógradas, acusando-as de terem perdido a legitimidade para se definirem como baluartes do progresso.

Que progresso? É precisamente o que ripostaram os criticados com o socialista Dominique Potier a dizer que a era do Antropoceno mudou o paradigma anteriormente existente: ”num mundo de recursos limitados a inovação deve ser posta ao serviço da partilha”.

Argumentando dentro da mesma lógica, os ecologistas lembram que existe uma contradição crescente entre o progresso técnico e o progresso humano, lembrando o exemplo dos pesticidas.

E o filósofo Pierre Dardot corrobora a necessidade de as esquerdas se libertarem de vez dessa associação entre os avanços tecnológicos e os sociais, porque durou demais a precaução de não se quererem ver emparceirados com os luditas do século XIX, crismados de arcaicos por terem destruído os teares, que os atiraram para o desemprego.

Nesta fase histórica faz todo o sentido pôr em causa que progresso nos propõem, quando só aproveita a alguns em detrimento da grande maioria da população mundial, e nada vem contribuir para a concretização de maior justiça económica e social na Humanidade...

2 comentários:

  1. Outra perversão é o excesso de consumo e a facilidade com que se prescinde de bens ainda utilizáveis apenas porque a avidez do sistema exige a troca por outros. A lógica capitalista ,implacável, conduz à degradação, ao lixo abandonado no mar, etc
    Ao lado há os que nada têm, muitas vezes incitados pela publicidade que também os atinge
    , levando-os a não olhar a meios para também terem acesso aos bens expostos, pilhando, roubando, etc

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  2. Não podia estar mais de acordo. O progresso tecnológico pode significar um retrocesso moral ou social. As condições de vida dos assalariados industriais na Grã-Bretanha do sec. XIX eram provavelmente muito piores do que as dos seus Pais e Avós artesãos e agricultores, mesmo que seja evidente o mundo de hoje seria muito diferente se a revolução industrial se tivesse processado a um ritmo distinto (para pior e para melhor).

    O que quero dizer é que nunca é moral fazer depender o progresso material de todos no sacrifício de alguns ou do meio ambiente (algo que nos prejudica a todos).

    Mas, Jorge Rocha, o mesmo se pode dizer da evolução dos sistemas políticos. O Jorge Rocha deu o exemplo da procura de uma cura para a sífilis para nos convencer a investir no socialismo. Olhando para os crimes cometidos sob essa Bandeira, julgo que se deve aplicar exactamente a mesma censura a teorias sociais que se aplica a tecnologias. No centro da História deve estar, naturalmente o Homem e este não pode ser tornado servo da Máquina, do Capitalismo ou do Projecto de Construir uma Sociedade sem Classes.

    Ou seja, um pouco de genuíno Conservadorismo, daquele que corre nas veias dos Ecologistas, assim como de Prudência, é sempre de recomendar...

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