terça-feira, 15 de setembro de 2020

Lembremos aos que esquecidos estão (4)


Voltemos ao essencial: o governo do Partido Socialista, apoiado pelo Bloco de Esquerda e pela CDU entre novembro de 2015 e a atualidade, tem sido o melhor de quantos já contámos desde o 25 de abril de 1974, aquele que conseguiu melhorar significativamente todos os indicadores económicos herdados do governo anterior ao mesmo tempo que reduziu o coeficiente de Gini, que define o nível de desigualdade entre os cidadãos de um país.
Desenvolver com os olhos postos numa melhor distribuição de rendimentos tem sido aquilo que António Costa tem conseguido por muito que os interesses de quantos viam na política desreguladora e ultraprivatizadora das direitas a possibilidade de poucos enriquecerem à custa do empobrecimento da maioria.
Na atual crise tem sido este o governo, que tem correspondido com competência e eficácia aos múltiplos desafios impostos por circunstâncias inéditas para as quais temos múltiplos exemplos internacionais do que sucederia se fossem outros a estarem nas rédeas da situação. Só de pensar como estaríamos com um qualquer Passos Coelho ou Rui Rio a enfrentar este misto de crise sanitária, económica e social, dá para criar pesadelos nos mais lúcidos.
Na definição do combate da União Europeia aos efeitos deste contexto adverso foi António Costa quem esteve muito ativo junto dos parceiros europeus, a instigar os que pretendiam reduzir a quase nada esses apoios, e a secundar com determinação os que perceberam que estamos num presente, que não se compara com o passado vivido durante a crise de 2008.
Ficaram assim definidos os muitos milhões, que serão injetados na economia portuguesa para devolver-lhe a dinâmica demonstrada nos quatro anos anteriores e alavanca-la para objetivos ainda mais ambiciosos. E são esses milhões que as direitas se babam a imaginar sob o seu controle tal qual sucedera com Cavaco em 1985, surgido oportunisticamente a tomar conta do governo logo após Mário Soares ter conseguido cumprir o objetivo de franquear as portas da Comunidade Económica Europeia e de lá garantir os milhões em subsídios destinados a aproximarmo-nos dos padrões dos países mais avançados do continente. O que se seguiu foi o que se sabe: não só o país nunca saiu da cepa torta, como os milhões aproveitaram sobretudo aos amigos de Cavaco e aos Donos disto Tudo que o apoiaram interesseiramente.
Chegámos a uma altura em que se repete o ponto de viragem de há trinta e cinco anos. O país tem uma oportunidade única para cumprir os objetivos de então, garantindo uma melhor aplicação dos apoios injetados na economia portuguesa no próximo ano.
Quem estará em melhores condições para o fazer? António Costa com as provas já demonstradas ou um qualquer governo das direitas, apoiado em Marcelo, que repita a ação criminosa empreendida pelo cavaquismo e responsável pelo atraso da economia nacional?
A grande maioria dos socialistas não deviam ter duvidas na resposta a esta questão! Mas curiosamente existe uma parcela, espero que muito minoritária, que as terão, e quereriam outra solução, nomeadamente a de esquecer o apoio das esquerdas e criar um grande governo ao centro sob a justificação de ficarem envolvidos os representantes de uma maioria mais substantiva de eleitores.
É para eles que as direitas andam a desenvolver uma campanha insidiosa que, em pouco tempo, contou com o assassino de carácter à ministra do Trabalho a propósito do lar de Reguengos, o aproveitamento de uma conversa off the record de António Costa com jornalistas do «Expresso» para criar uma explosiva guerra dos médicos contra o governo nesta fase aguda da pandemia, ou agora se valoriza a sua integração numa Comissão de Honra nas eleições a um clube de futebol depois dessa situação se ter verificado, sem escândalo, em 2012 e 2016.
A estratégia das direitas é clara: quanto pior melhor, quanto maior o caos, mais facilmente cai o governo. E lança poeira para os olhos dos cidadãos a fim de que deem importância ao acessório em detrimento do principal. Essas questões de pormenor pesam pouco num prato da balança, quando do outro está tudo quanto o governo de António Costa tem conseguido nestes anos.
Daí que Ana Gomes lembre a célebre máxima de Churchill quanto ao sítio onde se acoitam os verdadeiros inimigos: não são os que, às claras, se lhe opõem, mas os que nas suas costas tudo fazem para lhe darem facadas certeiras.
Não foi por isso casual a sua operação de vitimização quanto a não concorrer às presidenciais, porque António Costa não o permitiria. A imagem que dele deu foi a de um ditador interno, que calaria a liberdade dos militantes socialistas. Como não é por acaso, que cavalgue todas as oportunidades para o criticar, nomeadamente dando importância à nuvem de poeira na ordem do dia, em vez de fazer o que lhe competia como socialista, ou seja ajudar a dissipa-la para que nunca se perca de vista o essencial.
Nesta altura, eu pergunto a uns quantos socialistas, que não têm gostado dos meus textos por perspetivarem o voto em Ana Gomes se se sentem confortados com as suas permanentes bicadas em quem deveríamos prioritariamente apoiar?
Post scriptum - hoje o «Público» traz textos excitados de Paulo Rangel e de João Miguel Tavares a propósito das posições de Ana Gomes ou do auto-de-fé a António Costa. Refaço a pergunta aos socialistas que votam nela e atiram mais lenha para a fogueira contra o primeiro-ministro: sentem-se confortáveis com tão relevantes compagnons de route?




1 comentário:

  1. Jorge Rocha, não tente matar o mensageiro. Quero lá saber o que pensam Tavares ou Rangel. Interessam-me as posições, não as motivações destas personagens (que diriam mal do PS em qualquer circunstância).

    As perguntas que deve fazer quem é intelectualmente honesto e não está cego pela fúria clubista são duas: 1) Deve um PM em exercício oferecer o seu apoio a um candidato a Presidente de um clube, ainda por cima a uma personalidade tão sulfurosa como Luís Filipe Vieira? A resposta é um rotundo não. 2) A estratégia de Costa de fugir à contenda presidencial, dando a eleição de mão-beijada a Marcelo é uma cobardia de quem espera escapar pelos pingos da chuva (vide o que disse Pedro Nuno Santos)? A resposta é um rotundo sim.

    O resto é conversa para enganar meninos. Irra, que você até faz com que o SG do PS pareça um Kim-Jong Costa...

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