sábado, 5 de setembro de 2020

Sinais preocupantes a serem intensamente combatidos


Primeiro quiseram impedir as comemorações do 25 de abril. Não conseguiram!
Depois foi a sanha contra o 1º de maio na Alameda, que prometia trazer contaminações em massa. Foram igualmente derrotados comprovando-se que os anunciados surtos não se verificaram.
Tem sido agora a indecorosa guerra contra a Festa do Avante, que misturou os anteriormente envolvidos (particularmente a SIC!) com Marcelo, que não resistiu a cavalgar uma campanha, que ajuizou suficientemente populista para nela colher alguns apoios. A forma como decorreu o primeiro dia da Festa confirma aquilo que, de antemão, se sabia: que tudo decorrerá de acordo com a bem oleada disciplina comunista e nenhum mal virá dali para a agravar uma situação, que vai estando limitadamente controlada.
Os três exemplos demonstram, porém, um sintoma preocupante: quem sempre esteve contra os valores de Abril e se acoitava envergonhadamente nos partidos das direitas, está a ganhar atrevimento e a contar com a ajuda das televisões e dos jornais para transformar como novo normal a execração do que cheire a esquerda e a impor a atmosfera de medo propícia a vantagens eleitorais para as direitas. Trump usou e usa abundantemente dessa estratégia de associação do mal ao socialismo e ao antifascismo e ainda há quem, na América, nele acredite. Agora, à conta de think tanks mais ou menos clandestinos, lautamente financiados por empresários de práticas mais do que duvidosas (vide os que participam nos banquetes do Chega!) e com a presença de cultos evangélicos capazes de atraírem novos prosélitos incultos e de inteligência mais do que limitada,  essas iniciativas vão-se multiplicando noutras de igual sentido. Como o manifesto contra a disciplina de Educação para a Cidadania que, decerto não por acaso, Marcelo logo se apressou a receber em Belém.
Começa a ser trágica a forma como muita gente de esquerda encara esta tendência crescente de assumpção do espaço público pela direita mais extrema. Alguns houve, que alinharam na campanha das direitas e disseram cobras e lagartos da Festa comunista, fazendo-se momentâneos soldados do lado da guerra que não deveria ser o seu, porque não foi o dos que defendem os valores da esquerda e a necessidade dela convergir num governo maioritário para os próximos anos. O insuspeito Pacheco Pereira reflete isso mesmo na sua crónica de hoje no «Público», que termina com uma expetativa assustadora: “amanhã ver-se-á, e, se tudo correr bem com a pandemia, o que vai ficar destes dias será a fúria contra a Festa. O que se passa à volta da Festa é um sinal preocupante da evolução da vida política portuguesa, a caminho de um cada vez maior radicalismo, no limiar da raiva e da violência. Pensam que é exagero? Infelizmente é só esperar.”
Não querendo ser tão pessimista ao ponto de acreditar bem sucedido este assomo de relevância que as direitas mais extremas estão a arregimentar, vejo sinais positivos na reportagem de quem tem visto nos frequentadores da Festa uma grande indignação contra quem a quis proibir e - realçam as peças jornalísticas!- , esse sentimento exclui totalmente o governo.
Em boa hora, porque Boaventura Sousa Santos, noutro texto publicado no mesmo jornal, recorda como o significativo fluxo de dinheiro vindo dos cofres europeus para o país entre 1985 e 1995, com a direita cavaquista a orientar o seu uso, significou um tremendo crescimento da corrupção, do desperdício e do abandono de atividades económicas (na agricultura, nas pescas, na indústria), que eram fundamentais para o país. Daí a importância de ser outra a orientação política dos que se incumbirão da utilização dos que se anunciam na sequência da devastação económica causada pela pandemia. No seu texto de leitura obrigatória, o professor de Coimbra lembra o grande desafio enfrentado pelas esquerdas no curto e médio prazo: Portugal terá de sair da zona de conforto com conta, peso e medida. Isso não será possível em nenhuma das variantes do centrismo: coligação PS-PSD ou PS com maioria absoluta. Resta-nos um governo de esquerda com provas dadas. Mas como o contexto é agora mais exigente, para que isto seja possível também a esquerda terá de sair da sua zona de conforto.”

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