Na sua época dourada - que tantas saudades nos deixou por nunca mais se ter repetido! -, Herman José criou um sketch inesquecível, o do Presidente da Junta, que se ajusta como uma luva a Marcelo Rebelo de Sousa nesta altura de incómoda azia suscitada pela provocação rasca de uma chegófila na Feira do Livro do Porto.
Desrespeitado, sentindo quão frágil é o estatuto de alto magistrado da Nação, que deixou menorizar quando se quis “presidente dos afetos”, Marcelo anda num afã a querer demonstrar ser ele quem mais manda. Por isso já não basta usar e abusar da figura de retórica em que fala do Presidente na terceira pessoa do singular como se fosse alguém que não ele, mas também repete, para quem o quer ouvir, ser ele quem decide sobre o futuro dos destinos dos portugueses. Acaso continue a sugerir aos descontentes para votarem noutros partidos, que não os da sua afeição, as sondagens continuam a dar a futura realidade como muito próxima da atual, ou seja com as esquerdas no seu conjunto a valerem mais vinte por cento que o conjunto das direitas.
Habilidoso na manipulação dos idiotas ou dos mais ingénuos pegou na Festa do Avante como oportuno saco de boxe, esquecendo-se daqueles dois anos seguidos, antes das presidenciais, em que veio à Quinta da Atalaia para embalar os comunistas com a suposta simpatia, que lhe mereceriam. Infelizmente sei de uns quantos, que se deixaram levar pela cantilena e escolheram votar nele tornando ainda mais ridícula a votação do pobre Edgar, então escolhido para inglório abate.
O problema para Marcelo é andar por estes dias a hipotecar votos, que já nem sequer só põem em causa o desejo de colher vitória maior do que a de Mário Soares, quando foi da sua reeleição. Agastando os comunistas e levando muitos socialistas a jurarem que nele nunca, quem sobrará para lhe poupar a ida á segunda volta? É que o mais certo é haver quem no PS, siga o exemplo de Pedro Nuno Santos e opte pela candidata bloquista - e se for Marisa Matias sabe-se bem quanto pela demonstrada simpatia não suscita a urticária de Catarina Martins! - sobretudo se os dois partidos encontrarem convergência bastante para aprovarem o próximo orçamento.
Aconteceria então a melhor das possibilidades: deixar o Aldrabão a lamber as feridas da sua insuficiente votação, obrigando Marcelo a disputar uma segunda volta, que lhe limite a insuportável jactância...
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