sábado, 22 de agosto de 2020

O que eles querem, bem o sabemos!


Na «Visão» de há três semanas recordava-se aquele dia de fevereiro de 2004 em que a elite - promovida pelas revistas e jornais económicos como gestores de excelência como quase não se vislumbravam alhures -, reuniu no convento do Beato e aprovou um documento pomposamente intitulado «Compromisso Portugal». Estavam lá todos aqueles que Ricardo Salgado formatara e continuaria a formatar para que Portugal enveredasse pelo mais acelerado ultraliberalismo económico com o Estado a reduzir-se a migalhas e grandes grupos económicos a ajudarem o putativo mestre de cerimónias a ser dono disto tudo com uma entusiasmada corte a secundá-lo. No governo Durão Barroso tudo faria para que os seus planos se concretizassem.
Dessa geração de «crânios» avultavam Zeinal Bava, Henrique Granadeiro, António Mexia, António Carrapatoso, Filipe de Botton, Alexandre Relvas, Diogo Vaz Guedes, Fernando Ulrich, Paulo Azevedo e António Horta Osório, o único que ainda mantém em torno de si uma ilusória aura mística por ter salvo um conhecido banco londrino à conta dos milhares de despedimentos, que nele impôs. E não esqueçamos o seu guru teórico, esse António Borges, que saíra da Goldman Sachs por porta bem pequena, mas aqui surgira a abitaitar teses, que os embevecidos prosélitos decoravam e milhentas vezes repetiam como forma de as querer transformar em verdades absolutas.
Dezasseis anos depois, e uns quantos processos judiciais pelo meio, subscreve-se a conclusão de Clara Teixeira, a autora da referida peça jornalística: em vez de criarem condições para salvarem e desenvolverem o país, como diziam ser seu fito, “percebeu-se que muitos deles, a partir de confortáveis gabinetes em grandes empresas e escritórios de advocacia e consultoria, empenharam-se, sim, em lucrar com os seus próprios negócios, premiando-se com generosos salários e bónus. Aos poucos, foi construída uma teia de interesses que se alimentou do (fraco) crescimento económico nacional, por via das participações cruzadas entre bancos e grandes empresas e Estado. Um triângulo fatal.”
De toda essa desmistificada geração - afinal mesquinha nos egoísmos pessoais e medíocre na forma como os quis potenciar! - resta o atual CEO do Novo Banco, António Ramalho, também associável a esse grupo, um jornal online (Observador), que acolhe as carpideiras da cartilha neoliberal, agora na fase de zombie, sem porém competirem com essoutra, mais animada, que multiplica aparições nos ecrãs da SIC na pose do «economista» sem diploma, mas capaz de proferir as mais absurdas patacoadas no autoconvencimento de serem incontestáveis axiomas.
Embora não pareça todo este texto tem a ver com o facto de Steve Bannon ter sido preso por locupletar-se à conta dos dinheiros a ele confiados a pretexto de construir o famoso muro de Trump. Esse acontecimento vem confirmar o que é regra nas direitas: sem qualquer pingo de sentimento solidário para com os mais desfavorecidos (cujos votos procuram garantir, mentindo-lhes, manipulando-os!) os políticos dessa área só pensam na forma de melhor enriquecerem. Isso foi válido para Dias Loureiro, Duarte Lima ou Paulo Portas que vieram de famílias, que o salazarismo considerava remediadas, e enriqueceram à conta do que a passagem pelos governos ou pelo parlamento lhes propiciou. Como o é para o Aldrabão do Chega, que tem levado ao paroxismo essa capacidade de enganar os tolos prometendo-lhe os bolos.
Houve um tempo em que os jornais, as rádios e as televisões quiseram-nos convencer de quanto estava fora de moda a divisão entre o ser-se de direita ou de esquerda. Hoje já poucos se atrevem a repetir a atoarda porque é evidente para grande maioria quanto essa separação de águas é a única justificável para alcançar um país mais desenvolvido e justo. Sem cidadãos de primeira ou de segunda. Com a riqueza distribuída de forma menos desigual.
No dia a dia temos de prosseguir no continuado esforço de remeter as direitas para a acantonada defensiva em que se vê neste cantinho à beira-mar plantado.

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