«Polémicas artificiais» assim designou António Costa todo o burburinho dos últimos dias tendo epicentro na Ordem dos Médicos e potenciado por uma imprensa que, sem incêndios e com os números dos afetados pelo covid a ficarem nas meias águas, agarra-se ao assunto como náufrago a boia de salvação.
As direitas políticas mostram-se inconsequentes, ora chamando ministras a Comissões Parlamentares a que ninguém verdadeiramente liga pela banalização decorrente do seu recurso por tudo e por nada, ora exigindo-lhes a demissão.
Quem começou a emergir para imitar o colega dos médicos nas táticas oportunistas, foi o bastonário dos advogados, um narcisista com longa carreira a guerrear inquilinos por conta dos interesses imobiliários e agora disposto a também auditar os escombros do caso de Reguengos de Monsaraz. Assisadamente os presidentes da Confederação Nacional das IPSS e da União das Misericórdias Portuguesas vieram perguntar pela legitimidade com que as Ordens querem vir meter-se onde não são chamadas. Contestando-as claro! E aí algumas direitas ter-se-ão sentido desconfortáveis porque merecendo a ministra o apoio das estruturas de Igreja Católica como podem explicar aos seus prosélitos, que estão momentaneamente na trincheira contrária?
Uma vez mais foi Catarina Martins quem apareceu desafinada no meio desta controversa história. Em vez de imitar o prudente silêncio dos comunistas, que consideraram muito justamente nada terem a opinar sobre o que minguava em substância, a líder do Bloco veio juntar-se ao Chicão e ao Chega nas críticas à ministra. O que continua a ser um sinal preocupante para quem desejava vê-la a mostrar outra sensatez e começar a negociar com o governo o acordo escrito agora proposto por quem, outrora, se mostrara a ele tão avesso. A viragem de Carlos César a 180º revela que, dentro do Partido Socialista, já perderam gás os defensores de um mirífico Bloco Central, que Rui Rio ajudou a enterrar com a sua colagem à extrema-direita. Algo de tão surpreendente que até a insuspeita Paula Teixeira da Cruz veio contestar como erro indesculpável e mereceu de Daniel Oliveira o comentário assassino de considerar que “raramente um líder partidário exibiu tamanha estupidez tática.”
Noutra vertente completamente diferente o «Público» faz capa com um estudo do Centro Nacional Oceanográfico do Reino Unido que demonstra existir dez vezes mais plástico no Atlântico do que se estimava. Com os consequentes danos na cadeia alimentar, com espécies animais enroladas ou empanturradas de plásticos e a nossa ingestão de fragmentos muito pequenos de tão nociva substância na comida, que nos chega ao prato.
Virando o mesmo jornal ao contrário damos com a crónica de Rui Tavares na última página tendo por tema a constatação de ser exatamente o contrário o que se passa relativamente à acusação dos liberais sobre o problema do socialismo ser o de esgotar-se quando acaba o dinheiro dos outros. De facto o governo do neoliberal holandês está a querer evitar a saída dos impostos da multinacional Unilever para o Reino Unido onde lhe está prometida taxa fiscal mais baixa. De repente os frugais, que têm tido sucesso à conta dos recursos dos outros, ficam em pânico com a ingestão do veneno, que julgavam exclusivamente seu. O que poderá facilitar, segundo o autor do texto, a criação futura de um sistema fiscal comum a todo o espaço europeu. Assim desejamos que aconteça.
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