quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Das razões menos declaradas para que ocorram explosões


1. Setenta e cinco anos depois do bombardeamento de Hiroshima pelos norte-americanos, persiste a mistificação de tão hediondo crime se ter devido à intenção da Administração Truman em abreviar o fim da guerra no Pacífico. Difícil será, porém, contestar, a outra razão - a mais óbvia! - para matar milhares de civis num breve instante: demonstrar ao mundo a superioridade militar norte-americana no mundo do pós-guerra e quem, doravante, iria comandá-lo em seu exclusivo proveito. Nos quatro anos que faltariam para a União Soviética também revelar-se detentora de igual meio de dissuasão militar, os EUA definiram os rumos da comunidade internacional numa lógica ativamente anticomunista, que implicaria a complacente aliança com o regime salazarista, convidado a integrar a NATO desde a sua criação.
Mais do que o horror perpetrado sobre as vítimas inocentes que despertaram nesse 6 de agosto de 1945 para o derradeiro dia da sua vida, a bomba de Hiroshima continua a ser o manifesto de afirmação do Capitalismo que, na sua selvajaria, passaria a adotar o Imperialismo como método, explorando os recursos das áreas geográficas sujeitas à sua influência. Com os milhões de vítimas, que essa estratégia implicaria.
2.  Outro horror, o da destruição de metade de Beirute pela explosão do nitrato de amónia guardado num armazém e estranhamente deflagrado por razões, que o governo libanês se apressou a atribuir a acidente, mas que os mais desconfiados facilmente associam à habilidade da Mossad em lançar atentados eficazes cuja autoria escamoteia. Se nos ativermos a quem mais ganha com o acontecimento ninguém contestará que seja Israel, cuja estratégia militar tem passado amiúde por fomentar o caos interno nos países com que faz fronteira.
A tragédia libanesa comporta, porém, duas lições a reter para qualquer nação por muito diversa que seja a geografia em que se situe: não só devem dissociar totalmente as religiões do exercício laico do poder - os muitos impasses, que empobreceram o país nas décadas mais recentes tem a ver com a divisão do poder entre as três comunidades religiosas mais influentes! - mas também travar a influência maligna dos banqueiros nas políticas dos governos. Se se chegou a uma tal situação, antes desta explosão, com a classe média a recordar com saudade o longínquo passado em que comia carne e hoje considera o pão um luxo, muito se deve aos Antónios Ramalhos, que comandam a banca libanesa guardando para si a parte de leão das riquezas geradas no país e apenas consentindo migalhas para grande parte da população.
Não fosse a explosão desta semana, seria outra -  a de cariz social! - a que se aguardava com inquietação. Esta apenas se antecipou à outra talvez porque quem lhe assegurou a ignição anteviu as vantagens de evitar uma revolução imprevisível a bater-lhe à porta!

1 comentário:

  1. Meu caro, o Imperialismo é muito anterior a 1945, mesmo o Imperialismo Americano, e diga-me lá em que o Imperialismo Soviético, sobretudo depois do fim da Segunda Guerra Mundial e atingida a paridade nuclear entre as super-potências, foi diferente? RDA em 1953, depois a Hungria, a Checoslováquia, o Afeganistão, todos esses Países sentiram a bota militar da URSS...

    Não seja faccioso ou ingénuo, o desejo de Poder dos Homens é igual em todos os regimes... Aquilo que a Bomba Nuclear marca sobretudo é o início da ascendência tecnológica ímpar dos EUA que haveria de levar a URSS às cordas em 1991...

    O único socialismo que chegou ao poder não trouxe mais nada senão penúria, destruição ambiental e despotismo...

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