sábado, 15 de agosto de 2020

Sobre a credibilidade de certas auditorias


Passaram já algumas décadas sobre a experiência em que fiquei esclarecido quanto à honestidade de muitos estudos ou auditorias encomendados às mais importantes consultoras no mercado: perante um conflito entre duas partes, aquela em que eu me incluía encomendou conclusões que a empresa contratada tratou de traduzir em realidades incontestáveis através dos números colhidos e demonstrativos da nossa razão, enquanto a parte contrária fez o mesmo com a outra concorrente a que recorrera. Estava em causa um conflito laboral entre trabalhadores e patrões e o resultado final acabou por ser um empate até porque, aleatoriamente, a consultora de um lado poderia ter sido perfeitamente a do outro, ajustando-se aos objetivos de quem lhe pagava o estudo ou auditoria.
Vem isto a propósito da auditoria da Deloitte a propósito do Novo Banco, cuja apresentação tem sido sucessivamente adiada, e a da Ordem dos Médicos ao Lar de Reguengos de Monsaraz.
No primeiro caso desconfio que as conclusões do Relatório final têm sido sucessivamente ajustadas às denúncias vindas a público sobre as decisões de gestão da Administração liderada por António Ramalho. Não tivessem sido divulgadas essas estranhas práticas e a Deloitte já teria, provavelmente, dado o trabalho como concluído, saindo uma daquelas coisas tipo melhoral, que mal não faria, nem a quem o está a pagar. nem a quem seria particularmente beneficiado com tal desiderato, ou seja a referida Administração do Novo Banco.
O problema é haver uma atenção expetante sobre o que a Deloitte terá concluído sobre as operações agora publicamente consideradas duvidosas. E não querendo correr o risco de se descredibilizar totalmente a consultora pode estar a repensar a estratégia: nada tendo a censurar fica exposto o comprometimento com quem possa ter agido fraudulentamente, pelo que melhor convirá aferir onde param as modas, mormente se muda ou não a composição de quem manda no Fundo de Resolução para depois suavizar, dentro da medida do possível, as operações em causa.
Quanto à auditoria às mortes no Lar de Reguengos de Monsaraz estamos perante mais uma eloquente demonstração da desonestidade do bastonário da Ordem dos Médicos, que a terá encomendado para pôr em causa o governo e a autarquia socialista a qual, segundo os estatutos da Fundação que o gere, tem participação ativa na sua gestão.
Não foi suficientemente desmascarado um dos motivos porque essa auditoria peca logo na legitimidade: os auditores deveriam, no mínimo, consultar todas as partes envolvidas, algo que a equipa contratada pela Ordem dos Médicos nem sequer se dispôs a fazer, quanto mais não seja para mascarar a sua parcialidade original.
Importava apresentar umas conclusões infundamentadas, mas que as televisões repetiriam até à exaustão segundo o principio goebellsiano de tornar verdade uma mentira mil vezes repetida. E interrogamo-nos porque não se dedicou a mesma Ordem a analisar os muitos outros lares onde os casos de covid também assumiram dimensão significativa?  Qualquer observador imparcial conclui que o bastonário da Ordem dos Médicos não tem escrúpulos em explorar morbidamente a morte de quase uma vintena de pessoas para que a campanha política antigoverno vá ao encontro dos seus objetivos...
No caso de Reguengos de Monsaraz procura-se pôr em causa a elementar regra seguida na ocasião por quem enfrentou a crise: enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Há mais de dois séculos e meio o Marquês do Pombal demonstrou ser isso a fazer, se a tormenta é tão inesperada quanto difícil de controlar...

1 comentário:

  1. Comentar o quê?
    A tragédia de Monsaraz?- Lamentável
    O relatório? -Desconhecido do público.
    A atitude do Bastonário? - Desprezível
    Da comunicação social - Já estamos habituados à bandalheira.

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