sábado, 1 de agosto de 2020

Para quando a acusação de fraude pelo Ministério Público?


Há anos que leio atentamente as peças de Paulo Pena, ciente de nelas encontrar o que de melhor se publica no jornalismo de investigação em Portugal. Agora a sua atenção tem incidido sobre a estranha gestão do Novo Banco com a venda suspeita de muitos dos seus ativos a um fundo sedeado na Ilha Caimão no qual se escondem interesses imobiliários mais do que suspeitos em Portugal. Voz peregrina nas redes sociais avança com sugestão pertinente para sabermos quem são os seus donos: ocupam-se essas propriedades e os seus novos donos logo têm de dar a cara ao acompanharem a polícia por eles chamada para as desocupar. Porventura - o advérbio não aparece aqui por acaso! - talvez dessem à costa alguns daqueles nomes de especuladores imobiliários, que andam a financiar o Chega e para os quais o seu líder poderá ter trabalhado no consultório de aconselhamento a fugas para paraísos fiscais, que o empregava até muito recentemente.
Lidando com a opacidade das informações veiculadas pelo Novo Banco, Paulo Pena conseguiu provar a estranha gestão da equipa de António Ramalho, que anda a prodigalizar lucros avultados aos cúmplices a quem facultou 5355 imóveis e 8486 frações a valores, que se suspeitam fraudulentos.
Eis três exemplos, hoje por ele divulgados no «Público»:
 - um prédio misto em Azinhal - Milheiros (Ferreira do Zèzere)  foi vendido à Blue Fields - Sociedade Imobiliária Lda. por 2145 euros. O terreno tem 880 metros quadrados, a casa 136 e ainda existe uma pequena ruína com 68. Para as Finanças a avaliação fora de mais de 36 mil euros. Agora quem a vende, sem ter feito qualquer obra de reparação ou restauro, pede 73 mil euros, ou seja 34 vezes mais do que lhe custou no negócio com o Novo Banco.
 - uma casa em Saltinho (Mangualde) foi vendida por 20122 euros, quando as Finanças a avaliavam em mais de 27 mil. Igualmente sem qualquer intervenção está à venda por 34 mil, ou seja com um lucro previsto de 72%.
 - um terreno em Pataias (Alcobaça) com 400 metros quadrados, onde funcionou um falido armazém de alumínios, foi vendido por 62294 euros ao mesmo fundo da Ilha Caimão. Por esse valor não faltariam na terra interessados na compra, à qual chegaram a concorrer. Sem que o Novo Banco quisesse sequer falar com eles. Agora está à venda por 120 mil euros.
Bem tentou Paulo Pena obter do Novo Banco mais dados para aferir se foi ou não generalizada essa intenção de vender a tuta e meia aquilo que os seus compradores agora põem no mercado com indecorosos lucro. Compreende-se, porque a administração de António Ramalho recusou esses dados. Faltará muito para que o ministério público a acuse de fraude?

Sem comentários:

Enviar um comentário