sexta-feira, 2 de junho de 2017

Porque sou contra eleições primárias

Nunca fui um entusiasta das primárias como modelo definidor de lideranças dos partidos, sejam eles quais forem. Mesmo quando me empenhei ativamente na que deu a vitória a António Costa contra António José Seguro, sempre a vi como uma jogada inepta deste último para ver facilitada a vitória, que julgaria mais fácil contra quem o desafiara.
É por isso com toda a legitimidade que concordo em absoluto com a derrota imposta pela Direção Nacional do PS à linha minoritária de Daniel Adrião, que pretendia ver consagrado um modelo de eleições internas, que contraria um principio absoluto: quem tem o direito de definir as lideranças das organizações são quem nelas milita, quem as financia através das suas quotas.
Isto não exclui o facto de se exigir bem mais ao Partido Socialista para que torne sustentável o apoio social conquistado pelos resultados da governação de António Costa e expresso em sucessivas sondagens.
Ao contrário da prática dessa mesma Direção Nacional, que julga abrir-se á sociedade civil com conferências e seminários onde só comparecem os já conquistados para as causas do Partido, a prioridade deveria ser conferida à reabertura de sedes locais em tantos sítios quanto os possíveis e com uma contínua atividade de contacto com o eleitorado através de propaganda distribuída o mais regularmente possível em mercados, estações de transportes públicos e até mesmo porta-a-porta, algo que vemos os ingleses praticarem como regra fundamental da relação partidos/eleitores e aqui ignorada.
Será necessário muito dinheiro para tal estratégia? Decerto o será! Mas a partir do momento em que essa seja definida como uma prioridade a médio prazo, tão só as finanças do partido recuperem da situação muito delicada a que chegaram, não há outro caminho. Até porque essa será a forma de muitos simpatizantes darem o passo seguinte, que é o da adesão militante, contribuindo para tornar mais saudáveis essas depauperadas contas.
E perante esse objetivo, porventura talvez sejam valorizados os militantes dispostos a pagarem para fazerem política no sentido mais genuíno e desinteressado possível, ou seja sem terem por fito virem a ocupar um qualquer cargo, que saibam remuneratoriamente apetecível. Porque, como se tem visto no turbulento processo de escolha de candidatos para as próximas autárquicas,  essa sofreguidão por lugares elegíveis, e potencialmente remuneráveis, tem sido mais do que indecoroso.
Quando os partidos, e o Socialista em particular por ser o da minha filiação, são objeto de críticas malévolas dos seus detratores, devem reconhecer que algumas delas têm fundamento, embora a maior parte provenha de quem, consciente ou inconscientemente, defende propósitos, que nada têm a ver com a Democracia. Com a imposição de uma ética, que saneie comportamentos malsãos, poder-se-ão cativar militantes empenhados em verem a sua adesão política como um exercício de cidadania e reduzir o espaço de influência dos que só ao Partido conferem má fama.
É por isso que reduzir essa participação cívica a umas meras eleições primárias constitui uma falácia incapaz de ir ao fundo da questão. Tendo emergido da sociedade como representação organizada da sua vontade, o Partido Socialista deveria apostar na recriação de estratégias de comunicação mais intensas entre os militantes e os eleitorados a nível local. Algo que, infelizmente, ainda não se vislumbra como prioridade da Direção Nacional.

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