sábado, 25 de julho de 2020

Haja vontade de dançar o tango


Como não ando aqui para enganar ninguém, defendo há muito a proposta de Pedro Nuno Santos para que as esquerdas consigam conjugar-se num acordo duradouro pelo qual assegurem a transformação do país sem os constrangimentos de direitas, mesmo daquela que, na melhor das boas vontades. António Costa conotou com o Velho do Restelo. Importa, por isso, que a vontade seja comungada pelo Partido Socialista, pelo Bloco de Esquerda e pela CDU, todos eles capazes de se dissociarem dos cálculos rasteirinhos, inibidores da porssecução da convergência conhecida na anterior legislatura.
Importa que o PS não se fie na sua autossuficiência, mas que o Bloco, o PCP e o PEV não andem a arranjar sucessivos alibis para conotarem o governo com a trincheira contrária. E lamento que o grande negociador do acordo de 2015 esteja agora acantonado num Ministério onde tem feito excelente trabalho, mas onde se o sabe excluído dessa criação de sinergias à esquerda para que o sabemos tão talhado.
Ontem, no debate sobre o Estado da Nação, António Costa elencou os motivos porque se justifica a renovação da convergência com a demais esquerda parlamentar: todos comungam da necessidade de refazer a capacidade produtiva, de valorizar os recursos nacionais, de fortalecer os serviços públicos, de reforçar o investimento estatal, de combater a precariedade nos direitos ao trabalho e à habitação e da luta contra as desigualdades.
Com as direitas nenhum desses pressupostos se verifica, nem mesmo com esse caduco PSD, que nem sequer apoia a produção do hidrogénio verde para o qual o país tem condições extremamente favoráveis para transformar num dos seus mais bem sucedidos clusters. Soaram a ridículo as alusões de Rui Rio sobre um pretenso negócio da China, quando temos bem presente quem estava no (des)governo, quando a EDP e a REN foram entregues de mão-beijada ao Estado em causa.
É claro que o PS ainda contém alguns militantes extremamente velhos na mente, que não na idade, como Sérgio Sousa Pinto, que continua a usufruir de exagerada atenção dos media. Numa entrevista ao «Público» ele dá conta de inesperada lucidez quando confessa: “Eu acho que não mudei. O mundo mudou, eu se calhar não soube mudar com ele”. Assim se explica que tente fazer o tempo voltar para trás uma boa dezena de anos, quando retoma a ideia de se considerar Francisco Assis como potencial sucessor de António Costa à frente do PS. Se o ridículo matasse, a formulação de tão singular proposta, seria fatal para quem, em tempos, pareceu ter ideias refrescantes na Juventude Socialista, mas depressa perdeu prazo de validade...

1 comentário:

  1. Sérgio Sousa Pinto não é velho de mente, Jorge Rocha, simplesmente pensa de maneira diferente da sua.

    O PCP ainda é um Partido Estalinista e o BE e o PCP ainda defendem o Nacionalismo Económico, enquanto que António Costa e a generalidade dos Socialistas, mesmo os mais à Esquerda, são anti-proteccionistas.

    Eu até compreendo o desespero das Esquerdas perante o crepúsculo do neoliberalismo, mas cabe lembrar que o Nacionalismo Económico morreu nos anos 70 devido a duas crises petrolíferas, não à perfídia de Reagan ou Thatcher, que se limitaram a aproveitar dessa crise para conquistarem o Poder.

    Se há Partidos que não mudaram são estes e a divergência com o PS é de fundo. Claro, podemos todos regressar ao pós-guerra, mas olhando para a forma como os nacionalistas em diferentes geografias têm sido incapazes de lidar com a pandemia, o que se pode dizer deste nacionalismo é que ele não passa de um zombie, em particular numa era em que o aquecimento global só pode ser travado com intensa cooperação internacional, não com competição tola entre nações.

    A Alemanha e o seu ordo-liberalismo ganharam, Jorge Rocha. Estados que enveredaram por estratégias de desenvolvimento nacional acabaram expostos à dívida e à penúria (caso da França de Mitterrand em 1983) e com a Direita de regresso ao Poder em força, até hoje. Não deixa de ser curioso, mas na conservadora Alemanha, os trabalhadores gozam de mais direitos, inclusive de participação na gestão das empresas que em ex-paraísos socialistas como o RU ou a França.

    Quer a Direita de regresso ao Poder? Implemente uma estratégia socialista, falhe, e vai ver que não demora muito...

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