quarta-feira, 29 de julho de 2020

Ricochetes e trogloditas


1. Ao indignar-se com quem, em tempos, achou que o Novo Banco ia ser um «banco bom», Rui Rio tem de fazer o mea culpa  ao seu próprio partido, porque foi dele que emanou essa ideia peregrina pela voz de Maria Luís Albuquerque, que até ia mais longe e asseverava não virem a verificar-se custos para os contribuintes ao lançar a experiência financeira proposta pelas instituições europeias para o periclitante sistema bancário português.
Quando tanto se indigna com as malfeitorias da administração do Novo Banco, Rio não pode esquecer que a escolha do «comprador» saiu da lavra de Sérgio Monteiro, secretário de Estado do governo de Passos Coelho e militante ou simpatizante do seu partido. Para tal não só considerou virtuoso o interesse da um fundo abutre, a Lone Star, conhecido por ter ficado com as casas de muitos irlandeses, que já haviam pago 95% do crédito contraído para as adquirir, mas também logo tornou-se num dos donos de empresa apostada em entrar no mesmo tipo de negócios. Caso para questionar sobre quem encontraríamos como donos daquele Fundo nas Ilhas Caimão, que fez a negociata desvendada pelo jornalista Paulo Pena nos últimos dias.
Razão para concluirmos que, quando Rui Rio tenta assacar culpas ao governo pelo que vem sucedendo no Novo Banco nos anos recentes, deveria ter cuidado com os ricochetes...
2. Não é que haja grande expetativa quanto à decisão da SIC e da TVI em porem fim aos indecorosos espetáculos de clubite aguda, que espicaçavam os adeptos mais trogloditas a transformarem as suas simpatias futebolísticas em reflexos tribais, que as extremas-direitas costumam aproveitar por os saberem permeáveis aos seus discursos de ódio ao Outro, sejam eles de outro clube, de outra cor da pele, de outro credo religioso ou de outra opção afetiva. Algo que os próprios clubes têm potenciado através das suas estruturas de comunicação que, segundo Ricardo Costa, acabarão por matá-los juntamente com o próprio futebol. Não esqueçamos que um energúmeno chamado Fernando Madureira tem sido apoiado pela Direção do F.C. Porto e é referenciado nas movimentações do Chega de acordo com a imprescindível peça de Miguel Carvalho.
Escusando-se a RTP a acompanhar as duas concorrentes na decisão de parar com esse tipo de programas, só confirmamos como a televisão pública continua a marginalizar-se daquilo que a maioria dos portugueses dela exige. Quase cinco anos passados sobre a mudança de liderança no governo tarda o momento em que ela seja eficientemente «deslaranjada», tornando-a coisa mais asseada...

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