Há um episódio dos Simpsons, com uns bons anos em cima, que me serve, amiúde, de exemplo para comparar o comportamento de alguns dos protagonistas da nossa Arte de fazer política e finanças em Portugal. Nesse episódio Bart ia visitar o estúdio de gravação das emissões do palhaço Krusty e, no seu desatino, conseguia deitar abaixo todo o cenário. Olhando para o que fizera apressa-se a dizer I didn’t do it embora não houvesse como desmentir-lhe a autoria dos estragos.
A divulgação das peças da acusação contra os arguidos do caso da derrocada do Grupo Espírito Santo é fértil em bartsimpsonices: no Banco de Portugal Carlos Costa sabia desde finais de 2013 qual a verdadeira situação do grupo e assobiou ostensivamente para o lado como se não lhe coubesse papel determinante em travar o empolamento dos danos; na CMVM Carlos Tavares recebeu informação da KPMG no mesmo sentido e não teve pejo em autorizar nova ida do BES aos mercados para se financiar com as incautas poupanças de uns milhares de clientes pressionados pelos gestores das contas a fazerem o grande negócio das suas vidas; Cavaco Silva, que sempre se fez valer dos dotes de «brilhante» economista e nunca revelou o mínimo talento para tal ofício, até se prestou a servir de ator em bacoca peça publicitária para melhor vender a falcatrua;José Maria Ricciardi a tudo assistiu até adivinhar-se arrastado na hecatombe e, saindo de mansinho, conseguiu a proeza de nem sequer figurar entre os arguidos. E, enfim, Passos Coelho que, entre 2011 e 2014 teve as prestimosas colaborações de Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque como ministros das Finanças cuja obrigação era revelarem-se proativos numa situação, que resvalava para o desatino, ainda consegue fazer melhor: a exemplo de Bart Simpson, que conseguia tornar-se vedeta televisiva com gags, que repetiam a cena original, Passos Coelho, por interpostos apoiantes, quer-se fazer passar por herói de uma tragédia a cujo decurso assistiu na bancada só dela descendo para dar o golpe fatal no corpo pútrido, que ameaçava contagia-lo.
Enquanto a maioria dos portugueses assiste, algo incrédula, a essa charla indecorosa, os que a desenvolvem esquecem-se como acabava esse episódio dos Simpsons: se havia quem, a princípio, ainda ria com a pilhéria, depressa se enfadava. Porque, a respeito do comportamento de toda essa gente no caso GES/BES, o que é demais também enoja. E o único paliativo para esse enjoo seria vê-la exemplarmente condenada por uma Justiça com oportunidade para se redimir de tudo quanto tem deixado escapar. Mas tendo em conta que Carlos Costa, Carlos Tavares, Cavaco Silva, José Maria Ricciardi ou Passos Coelho nem sequer arguidos são, é caso para dizer que bem podemos esperar sentados ...
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