domingo, 19 de julho de 2020

Nem o pai morre...


Enquanto a cimeira europeia vai sendo exemplo do provérbio “nem o pai morre, nem a gente almoça”, vale a pena olhar para alguns textos publicados na imprensa durante o fim de semana e que reiteram o que têm sido comentários frequentes neste blogue.
No «Público» Amílcar Correia lamenta os 5 mil milhões de euros que a fraude do Grupo Espírito Santo já terá custado aos portugueses e atribui-a “a um certo empresariado arrogante e elitista, um perfeito exemplo do que foi a gestão privada da banca em Portugal e das placas giratórias de que se serviu para movimentar dinheiro e corromper uma corte que preferiu ignorar o que se estava a passar”. Eu que sou menos misericordioso relativamente a esse empresariado, muito mais generalizado nos propósitos gananciosos do que relativiza o indignado articulista, lembro uma canção de intervenção do pós-25 de abril em que se dizia ter o patrão a forma de balão à frente e quem se dispunha a utilizar o alfinete. Cá por estas bandas a vontade continua a ser a mesma...
No «Diário de Notícias» Fernanda Câncio incide a atenção sobre a Nova School de Carcavelos, universidade pública onde, a pretexto de se assumirem como mecenas, grandes empresas pretenderam exercer um controle mais restrito sobre o tipo de Economia aí lecionado. Se no edifício original em Campolide já predominavam os entusiastas do neoliberalismo a transição para o novo campus só pretendia acentuar essa tendência de atirar para o futuro mercado, mas sobretudo, para os centros do poder públicos e privados toda uma geração de licenciados e doutorados formatados para celebrarem as virtudes da livre concorrência com o mínimo de regulação possível. A tentativa de silenciarem uma das suas docentes, Susana Peralta, que não se ajusta a essa perspetiva, permitiu desmascarar o que se passa numa instituição onde quem lá manda acumula remunerações com as que usufrui nas administrações das interesseiras empresas, cujos apoios mecenáticos pretendiam controlar a governação do país a médio e longo prazo de acordo com os cânones das direitas. Com pertinência a jornalista conclui: “o que não tem mesmo explicação é que, no momento em que sai a acusação no caso BES, esta fábula sobre a permeabilidade da academia ao poder do dinheiro pareça deixar tanta gente indiferente - incluindo ou sobretudo aqueles que passam a vida a exigir períodos de nojo e declarações de interesses. Pelos vistos só interessam nos políticos; o resto pode ser uma bandalheira”.
Num tema aparentado, mas que tem Carlos Alexandre como tema, Daniel Oliveira põe em risco o seu emprego na SIC ao contestar desassombradamente o seu subdiretor: se resisto a superbanqueiros e supergestores, também resisto a superjuízes. Nunca fui dos corajosos que batem em mortos. Tão livre como Gomes Ferreira, repito que um juiz justiceiro não nos serve. Serve-nos um país onde a banca não manda em políticos, os monopólios não são privados e os processos não morrem em manchetes oferecidas por magistrados.”

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