terça-feira, 28 de julho de 2020

O elucidativo panorama de um certo patronato à portuguesa


1. A notícia sobre a venda de enorme pacote imobiliário a um Fundo acoitado no anonimato das Ilhas Caimão por valor muito abaixo dos ativos nele contemplados e, ademais, através de hipoteca contraída junto do próprio Novo Banco dá sobejas expectativas sobre o sítio onde podemos almejar ver António Ramalho e a sua equipa de administradores daqui a pouco tempo se o Ministério Público agir em conformidade com o solicitado pelo primeiro-ministro: na prisão por ação fraudulenta contra os interesses do Estado Português.
Só posso lamentar que António Costa tenha manifestado inesperada falta de habilidade em gerir este assunto a nível da comunicação social, porque tornou-se presa fácil da demagogia de Rui Rio ou do Chicão sem convencer os portugueses sobre quem tem a obrigação de acompanhar os atos de gestão praticados no banco em causa. Se responsabilidades há a atribuir elas devem ser assacadas a quem vendeu o BES à comprovada empresa abutre que é a Lone Star: Sérgio Monteiro por convite de Carlos Costa que liderou o Banco de Portugal até há pouco.
É quase certo que, com Mário Centeno como governador, a instituição adote nova postura quer quanto à forma como funciona o Fundo de Resolução - que é quem tem prodigalizado sucessivos empréstimos ao Novo Banco -, quer na contínua aferição da gestão deste último. Mas querer atirar culpas para quem as não teve até agora só demonstra a desonestidade intelectual de quem  julga enganar o eleitorado com descabeladas mentiras.
2. Ocupado noutros focos de interesse só hoje pude ler o excelente artigo de Miguel Carvalho na «Visão» da semana transata sobre quem anda a promover o Chega junto dos empresários  para que abram os cordões à bolsa e lhes financiem a atividade. O que se consegue depreender é estarem ali um conjunto de nomes, que constituem imagem elucidativa sobre um certo patronato à portuguesa: gente conhecida pelos calotes à banca, por negócios mais que duvidosos em paraísos fiscais ou na autopromoção megalómana nada condizente com a sua efetiva pequenez. Há um pífio corredor de automóveis, um vendedor de tintas, amigos de Ricciardi, o dono da falida Air Luxor, gente de empresas de segurança e de venda de armas e, sobretudo, quem ganha fortunas à conta da especulação imobiliária.
E porque estou em dia para lamentos - se calhar porque me morreu uma tia, que me era simpática! - não se compreende como o governo faz com dois dos nomes ali elencados alguns negócios para que se justificaria a procura de mais respeitáveis parceiros. Um ainda fornece meios aéreos para combater incêndios, o outro viu fretado um avião para trazer da China material contra a pandemia. Bem faria Costa em mandá-los ganhar dinheiro para outra freguesia...

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