A propósito da aquisição pelo Estado de uma posição maioritária no capital da TAP não resisto a contar uma história pessoal. Durante anos geri uma empresa de manutenção, que passou da lógica de pequenina e honrada, para uma maior ambição, que a tornou prestadora de serviços nalgumas das maiores marcas presentes no mercado, daquelas que todos conhecem por serem referências maiores quanto ao seu peso no PIB nacional.
Habituados ao contexto anterior muitos dos colaboradores - sobretudo a nível de encarregados gerais - vinham intimidados questionar-me como seria possível corresponderem a desafios novos tornados possíveis por ganharmos concursos, que obrigavam a sempre se contratar mais gente e subcontratar algumas competências de que ainda não dispúnhamos.
A minha reação era invariavelmente a mesma:
- Sei que não vai ser fácil, mas se o fosse não se justificaria que aqui estivéssemos! É por se tratar de desafio difícil, que somos nós a assumi-lo!
Felizmente a realidade deu-me razão: nos anos seguintes o volume de vendas esteve sempre a crescer e os critérios quantitativos e qualitativos dos clientes para apreciarem o nosso desempenho foram sempre positivos. Muitas vezes a considerarem-nos próximos da excelência.
Quando me reformei foi essa a herança, que passei a quem me sucedeu.
Vem isto a propósito de Pedro Nuno Santos que, merece da imprensa em geral uma permanente contestação. José Miguel Júdice fala dele como se fosse o Diabo em pessoa, o mano Costa da SIC tem de se conter para aceitar um tão flagrante ataque ao endeusamento que faz da «superior gestão das empresas pelos privados», para não falar de um tal Pedro Cruz, que diz o ministro desastrado, quando explica tim-tim por tim-tim o que os portugueses devem saber sobre a decisão agora tomada.
As direitas têm um ódio visceral contra quem sabem ser hábil negociador e o garante de que o interesse nacional sempre se sobreporá ao dos interesses ocultos de que os seus cabeças de cartaz servem de palavrosas marionetas.
De Pedro Nuno Santos sabe-se a importância que teve no acordo que, em novembro de 2015, possibilitou a formação de um governo socialista com apoio parlamentar das outras forças de esquerda. Enquanto secretário dos Assuntos Parlamentares desse governo garantiu que os quatro anos da legislatura fossem cumpridos. Coube-lhe, igualmente, enfrentar a mais do que duvidosa greve dos camionistas, capazes paralisarem o país e darem efémero palco a um já esquecido Pardal. O resultado foi negociar com eles uma saída airosa, que devolveu a tranquilidade aos portugueses e tirou de cena quem nela entrara para cumprir agendas pessoais, senão mesmo de mais abrangentes intenções.
E porque lá diz o ditado que não há duas sem três, tivemo-lo a concluir o trabalho iniciado quando houve que reverter a criminosa privatização decidida por Passos Coelho quando se sabia de malas aviadas para o caixote do lixo onde promete morrer. Os senhores das direitas podem não gostar do tom do ministro, quando em praça pública, ameaça com nacionalizações ou insolvências, mas a negociação é mesmo assim: em tempo de guerra não se limpam armas e justificam-se as estratégias mais adequadas para dobrar as intenções dos que afundaram a TAP e ainda se pretenderiam recompensados por isso. Apareceu até um anónimo deputado do CDS que até se mostrava disposto a dar o dito cujo e cinco tostões só para que a TAP não deixasse de ter o controle maioritário dos privados na Comissão Executiva, achando bem que o Estado lá metesse o dinheiro e nada controlasse sobre o seu uso.
Se confio em Pedro Nuno Santos como ministro incumbido deste dossier e merecerá o meu apoio em combates prometidos para o futuro - sobretudo contra quem, internamente, começa a sair da toca com medo de nela ficar retido no momento decisivo! - é porque corresponde àquilo que costumava dizer aos meus encarregados: se viabilizar a TAP e reestruturá-la de forma a dar resposta ao que o país dela precisa, fosse tarefa fácil, um qualquer José Gomes Ferreira podia ser para lá chamado e poderia mostrar na prática o «brilhantismo» das suas análises. Mas como se trata de desafio de enorme exigência para o qual importa criar todas as condições para o levar de vencida, Pedro Nuno Santos é o homem certo no lugar certo!
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