1. Desagrada-me que o primeiro-ministro do país escolhido pela minha descendência para viver o presente e conquistar o futuro seja precisamente quem mais aposta no estilhaçamento da União Europeia. Não só porque vejo virada das avessas a tradição holandesa dos anos sessenta e setenta quando apoiava as causas mais progressistas e servia de refúgio aos que se escusavam a participar na Guerra Colonial, mas também porque a admirávamos como vanguarda das célebres causas fraturantes.
A gentrificação causou uma viragem problemática na forma como os holandeses olhavam para o mundo embora, se lermos os textos de José Rentes de Carvalho quando a senilidade ainda o não virara para a extrema-direita, saibamos antiga essa desconfiança para com o Outro com laivos de xenofobia. Hoje os venturas holandeses valem 1/4 do eleitorado e fazem com que os demais partidos das direitas os tomem como bússola do que devem pensar.
Em vez de imitar Merkel, que nunca cedeu a essa tentação, ou Macron que ganhou o Eliseu graças à forma como se assumiu oposto de Le Pen, Rutte considera vantajosa a vestimenta de eurofóbico, tomando os países do sul como seus inimigos de estimação. Deseja-se-lhe por isso a mesma sorte que a David Cameron: que ceda à vontade de um desses partidos mais extremistas do seu campo e imponha um referendo para sair da União. E que tenha o mesmo resultado. Porque, se desde a senhora Thatcher, não havia paciência para aturar as exigências inglesas, muito menos há para quem assenta os louros no esbulho dos impostos alheios.
Seria interessante comprovar a competitividade da economia holandesa fora da União. Por muito que isso significasse ver a minha tribo a mudar-se para paragens mais acolhedoras. As nossas, por exemplo!
2. É provável que esta União Europeia não aguente muito mais tempo. António Costa pressupôs essa hipótese ao constatar como os anos e as vicissitudes por que tem passado, desintegrou os consensos sobre o projeto para onde deveria tender.
Por muito que o dobrar de finados tenha sido adiado com o acordo firmado esta madrugada não haverá grande volta a dar-lhe: sobre os escombros do edifício, que ameaçou ruir este fim-de-semana e poucos mais abalos aguentará, importa refundar uma outra estrutura, mais forte e homogénea, capaz de evitar a sucessão de erros que a CEE e a UE foram acumulando nas décadas das suas existências. Se os Estados Unidos da Europa não forem possíveis a 27, que o sejam com quantos forem mobilizáveis para uma nova área económica desenvolvida, assente nas liberdades inerentes ao Estado de Direito e apostada em reduzir, tanto quanto possível, as desigualdades. As nacionais e as transnacionais...
As pessoas esquecem-se das vicissitudes pelas quais passaram os jovens Estados Unidos, incluindo uma guerra. Claro, quando há um casamento, pode haver um divórcio (veja-se o Brexit) e cabe lembrar que os grandes impérios europeus transnacionais se dissolveram todos. Acho ainda cedo para um dobre a finados pela UE, porque o Mercado Único e o Euro contam e muito para uns e para outros, por diferentes razões.
ResponderEliminarQuanto à barganha a que assistimos, pois, não dignifica a política, mas alguma vez na UE foi diferente? A UE é uma união de Estados Soberanos em que cada um defende os seus interesses...
Basta ver a triste história do combate à pandemia nos EUA, com os diferentes Estados a competirem entre si, para vermos que a UE até nem se saiu muito mal...