domingo, 26 de julho de 2020

Não ! Não se trata de nenhuma confusão, quando acaba em crime!


Dos Estados Unidos vieram-nos exemplos substantivos de como a extrema-direita conseguiu destilar no imaginário coletivo norte-americano um conjunto de valores, que culminaria na eleição de Donald Trump. As emissões da Fox News de Murdoch, as radiofónicas um pouco por todo o lado, o site Breitbart com Steve Bannon são exemplos de como se procurou normalizar o racismo das forças policiais, que foram sentindo-se impunes nos homicídios perpetrados contra negros indefesos, ou nas fronteiriças que viram legitimada a prepotência contra os imigrantes não hesitando em separá-los dos filhos, muitos deles ainda de colo. Conceitos como «marxismo cultural» ou «cultura do cancelamento« são invocados como argumentos desses setores para remeterem à defesa quem, à esquerda, pugna por um sociedade decente e justa. Nos Estados Unidos conseguiram apontar a decência opinativa como cingida a uma elite privilegiada que os «deploráveis» deveriam odiar ou, no mínimo, nem escutar.
Na sua coluna semanal no «Público» Vitor Belanciano diz existir por aí uma grande confusão, quando se procura vilanizar os subscritores de um protesto contra a RTP por ter dado tempo de antena a um branqueador dos valores fascistas do Chega, como se eles atentassem contra a liberdade de expressão de quem como eles não pensa. Ora não se trata propriamente de confusão: a partir do momento em que aceitamos sequer que a realidade passa por essa barafunda opinativa estamos a aceitar que se situem no mesmo patamar quem defende valores consonantes com a nossa Constituição e quem deles se aparta para deixar emergir a venenosa serpente, que metaforiza a besta fascista.
Por muito que um Nuno Melo se esganice contra essa esquerda, que tanto odeia por ser capaz de propor um tipo de sociedade onde se cumpram a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, prometidas desde a Revolução Francesa, não pode invocar que os seus preconceitos associados a um tipo de organização social fundamentada na exploração de quase todos por quase nenhuns mereçam eco na polis. A liberdade de expressão não pode nem deve ser estendida a todas as alarvidades que, em seu nome, se invoquem. Ela tem cabimento dentro das fronteiras que a Democracia deve estabelecer e donde aparte os seus inimigos. Por isso não deve existir nenhuma confusão entre os democratas e os neofascistas acobertados sob diferentes peles de cordeiro. Estas devem ser destapadas para desmascararem quem cria as condições para que, por exemplo um ator negro seja assassinado numa rua de Moscavide, apenas para que um energúmeno desse vazão aos instintos homicidas, que os Chega e outras coisas aparentadas, espicaçam.

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