quinta-feira, 5 de março de 2020

Quando só nos resta o mal menor...


Houve um tempo em que, à esquerda se acreditava numa evolução da história dos povos traduzida na fórmula dois passos adiante, um à retaguarda. E assim pareceu suceder durante alguns anos quando os amanhãs cantantes, mesmo que difíceis de alcançar, pareciam acessíveis para quem investisse doses acrescidas de paciência.
A vitória de Joe Biden na maioria das primárias democratas desta terça-feira aponta para uma hipótese alternativa: se civilizacionalmente a vitória de Trump há quatro anos significou dois enormissimos passos atrás graças ao seu discurso de ódio, abraçado por todos os frustrados de uma crise económica empobrecedora dos seus bolsos, enquanto enriquecia os mais abonados, um eventual sucesso de Biden em novembro mais não prefigura do que um tímido passinho em frente. Primeiro, porque se Barack Obama foi um presidente medíocre, que nunca soube, nem quis, mexer no que poderia ter estimulado as expetativas dos tais deploráveis referenciados por Hillary Clinton, o seu vice-presidente nunca demonstrou qualidades bastantes para conjeturá-lo como melhor alternativa. Depois, porque Biden facilmente será conotado com o tal sistema, que muitos eleitores do Midwest querem ver virado de pantanas por não lhes trazer qualquer melhoria na qualidade de vida.
Poder-se-á dizer que Trump ter-lhes-á prometido mundos e fundos e terão tido uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma, nestes quatro anos. Mas a máquina de propaganda da Fox News e outros difusores de fake news continuam pujantes na capacidade de enganarem os tolos com papas e bolos.  Por isso mesmo, se Biden ganhar será por uma unha negra e com uma, ou mesmo as duas câmaras do Capitólio desfavoráveis para prosseguirem o contínuo boicote demolidor de tudo quanto a nova Administração pretender impor como mudança. Caminho meio andado para mais um mandato fragilizado, tal qual os de Obama ou de Jimmy Carter. Abrindo novamente portas para uma qualquer réplica do pato bravo do Bronx.
Mesmo para um otimista como sou, não há grande espaço para confiar na grande transformação que Bernie Sanders ou Elizabeth Warren poderiam protagonizar. Vemo-nos na mesma situação dos eleitores franceses em que, perante o pai ou a filha Le Pen, preferiram votar em Chirac ou em Macron para evitarem o mal maior. Sem ilusões quanto ao facto de continuar indigesto o mal menor...

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